A minha brincadeira de criança se tornou um campeonato oficial!

Primeiramente, permita-me explicar o título do texto. Eu que sempre fui apaixonado - ou ao menos fascinado - por praticamente todos os esportes já criados pela humanidade encontrava justamente nos esportes minhas maiores fontes de diversão na infância. Futebol, futsal, vôlei, basquete, handebol, tênis de mesa... qualquer bola, independente do tamanho ou do propósito servia a um bem maior. Porém, obviamente havia tempos onde não era possível estar no campinho da esquina ou no ginásio da escola exercendo a atividade. Era necessária uma diversão "indoor", para se praticar dentro de casa. Meus preferidos? O clássico e amável futebol de botão, que frequentemente eu adaptava por tampinhas de garrafa de refrigerantes quando não tinha peças suficientes para o jogo de botões. Fosse com os botões ou as tampinhas eu adorava fazer torneios. Joguei inúmeros campeonatos brasileiros, gaúchos, Copas do Brasil e até eliminatórias de Copas do Mundo, além é claro, do maior torneio de futebol do universo. Curiosamente, porém, o meu campeonato preferido sequer existia na época: O Campeonato Brasileiro de Estados. Como o nome sugere, consistia em cada unidade da federação enfrentar outra até que houvesse o campeão - o Rio Grande do Sul era o campeão todas as vezes, é claro. Imagine minha surpresa e satisfação quando em 2015 meu devaneio de criança se tornou real, ainda que na categoria de base. A CBF anunciou naquele ano a criação da Copa de Seleções Estaduais Sub-20. Pra quem não lembra ou nem chegou a saber que isso aconteceu, confira os placares finais dos jogos abaixo: 

Conforme mandava o regulamento, ao final da primeira fase as duas melhores campanhas se enfrentaram na final do campeonato. 

Dois anos depois do título do Estado de São Paulo, a competição novamente foi disputada, mas com um cenário completamente diferente. Ao invés de apenas quatro estados, participaram vinte e seis das vinte e sete unidades da federação da república - a exceção foi o Distrito Federal. Por fim, chegamos às semifinais com Mato Grosso, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e São Paulo brigando pela conquista. 

Na grande final, encontraram-se o Rio de Janeiro, vice-campeão da edição anterior e o Rio Grande do Sul, antigo saco de pancadas. Em um belo jogo em Moça Bonita, um empate por 1x1, gol de Brenner do Olaria para o time carioca e de Caprini, do Juventude, para o time gaúcho. Nos pênaltis o goleiro Raul do Juventude, atualmente emprestado ao Cianorte defendeu a primeira cobrança carioca. Após isso, 100% de aproveitamento dos batedores e o título para a equipe gaúcha treinada por Arilson, campeão da Libertadores da América pelo Grêmio em 1995. 

O título gaúcho veio na segunda edição, deixando a vida real ainda mais parecida com meus devaneios de infância

Mas talvez você esteja aí pensando: "tudo bem, mas por que falar de um campeonato que ocorreu há dois anos atrás?". 

Ainda não houve confirmação de uma edição da competição em 2019, mas outra paixão do brasileiro decidiu adaptar o campeonato. Nasceu então o Campeonato Brasileiro de Seleções de Ligas de Futsal, disputada em Seara/SC com realização da Liga Paulista de Futsal. Sete estados estão disputando o campeonato: o estado-sede, Santa Catarina, o idealizador, São Paulo, além de Rio Grande do Sul, Mato Grosso, Paraná, Goiás e Amazonas (Rio de Janeiro, Distrito Federal, Paraíba, Tocantins e Roraima estavam cotados para estar no campeonato, mas acabaram não participando). Destes sete estados, três não possuem times na Liga Nacional de Futsal, o que chama a atenção. Rio Grande do Sul, Santa Catarina e São Paulo são atrações à parte por se tratarem dos maiores campeões da Liga Nacional de Clubes: são dezenove títulos somados em vinte e três possíveis. E como já era de se esperar, estes três estados começaram dominando o campeonato. O Rio Grande do Sul aplicou duas severas goleadas nas duas primeiras rodadas, marcando dezenove gols. Santa Catarina e São Paulo também venceram com facilidade na rodada inaugural e se enfrentaram em um belo jogo na segunda rodada. Melhor para os sulistas que venceram os paulistas por 2x0 e seguem 100% na competição. Destaque para o fato de que as três seleções que não possuem times na LNF ainda não pontuaram na competição. Confira os resultados dos jogos realizados até o fechamento deste artigo e a classificação parcial da competição:

A competição seguirá por mais alguns dias, conforme visível na imagem acima, e ainda tende a causar muitas emoções, principalmente nos jogos entre gaúchos, paulistas e catarinenses. Deixo aqui minha torcida pela afirmação do torneio no cenário da bola pesada e que mais ligas se juntem às pioneiras para que na próxima edição o campeonato seja ainda maior e melhor. E que a nostalgia continue: afinal, o fruto da imaginação de uma criança e da sua diversão com botões e tampinhas de garrafas em uma casa da região metropolitana de Porto Alegre se transformaram em um campeonato oficial e nacional. Como pensava Ernst Fischer, a vida não precisa imitar a arte, mas deveria ser e personificar a própria arte. E quem pode imaginar qual o próximo devaneio artístico que a vida imitará?