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Em 1995 o Flamengo contratava o melhor jogador do mundo






Apresentação de Romário no Camp Nou em 1993

O grande craque de uma geração no futebol brasileiro teve uma breve passagem pelo Barcelona. Aconteceu nos anos 90 e com momentos de grande inspiração. Em 1993, após cinco temporadas no PSV Eindhoven, Romário chegava ao Barcelona a pedido do técnico Johan Cruyff. Na época, os catalães pagaram 5 milhões de dólares para ter o baixinho. 


Apenas confirmando a opção assertiva de Cruyff, a arrancada do craque com a camisa azul e grená foi arrasadora. Logo na primeira temporada, a única completa, Romário recebeu da imprensa espanhola a alcunha de matador de porteros (matador de goleiros), por ter em várias oportunidades marcado mais de um gol na mesma partida. 

Na temporada 1993-94, o baixinho simplesmente comeu a bola. Umas das atuações mais memoráveis foi contra o maior rival do Barça, o Real Madrid. A partida histórica foi em um Domingo à noite, no Estádio Camp Nou, em 24 de março de 1994 - três meses antes da Copa do Mundo nos Estados Unidos. O Barcelona liderava a Liga com um ponto de vantagem para o time da capital, o que deixara o jogo com ares de decisão . E quem viu Romário jogar sabe que se tem uma coisa que o craque nunca sentiu foi o peso de uma decisão. Como se estivesse disputando uma de suas peladas ou o  tradicional futevolêi na Barra da Tijuca, Romário, de maneira impiedosa, acabou com o jogo. O Barcelona venceu aquela partida por 5 a 0 e o artilheiro marcou três gols - um deles após dar um drible espetacular no zagueiro Alkorta, que procura Romário até hoje. 

O 'baixinho' na jogada do primeiro gol contra o Real. 
Outro time de Madrid também sentiu a fúria do El matador do porteros. Romário conseguiu a façanha de marcar hat-tricks nas duas partidas contra o Atlético naquela Liga, um fato inédito até hoje na história do confronto.

Àquele time do Barcelona dirigido pelo lendário Johan Cruyff, ficou conhecido como Dream Team, ou, time dos sonhos. Quando o craque brasileiro chegou o esquadrão de Cruyff já era tri-campeão espanhol (1990-91, 1991-92 e 1992-93) e campeão da Liga dos Campões (1992), um dos conjuntos mais impecáveis já visto pelos amantes do futebol. Na temporada 1993-94 os blaugranas buscavam o tetra-campeonato consecutivo e, como todos sabem, tetra sempre foi a especialidade de Romário. O então camisa 10 do Barça fez uma Liga espetacular, marcando 30 gols em 35 jogos disputados, terminando como  artilheiro da competição. Umas das histórias mais interessantes de sua passagem pela Catalunha foi a amizade com o Búlgaro Stoichkov, grande opositor à chegada do baixinho, pois temia perder lugar na equipe titular. De fato, o técnico holandês foi obrigado a realizar rodízios no início, situação que não perdurou muito. Logo, Cruyff encontrou uma maneira eficaz de juntar essas feras dentro dos onze iniciais, um fator fundamental para a conquista do quarto campeonato espanhol consecutivo do Barcelona em 94.

Mesmo com a participação fantástica do brasileiro na Liga, a imprensa espanhola não perdoou o fato de o baixinho não ter tido um desempenho semelhante na Uefa Champions League. Em 94, o Barça chegou na final da competição europeia, perdendo o título para o Milan, em decisão disputada em Atenas. Romário anotou apenas dois gols naquela edição, ambos na primeira fase, contra o Spartak Moscou. 

Romário com a seleção em 94. 
Após a temporada, Romário se apresentou à seleção brasileira para a disputada da Copa do Mundo. Essa história todos já conhecem: a seleção foi campeã, Romário foi o melhor jogador do mundial e todo mundo ficou feliz. Todo mundo? Não necessariamente! 

A convivência com o povo brasileiro e com a cidade do Rio de Janeiro nas férias prolongadas no Brasil após o Mundial, fizeram com que o craque, que ainda tinha quatro anos de contrato com o Barça, tomasse a inusitada decisão de voltar ao Brasil em pleno o auge da carreira. 

Em sua reapresentação na Catalunha era notória a mudança de comportamento de Romário. Mesmo com a direção investindo forte na contratação de novos jogadores para reforçar o elenco e Cruyff montando o time para jogar em função dele, o craque não se via mais em Barcelona. A sua última grande exibição pelo clube aconteceu em jogo válido pela Liga dos Campeões, no Camp Nou, na vitória por 4 a 0 contra o Manchester United em Novembro de 1994. Nos seis meses em que disputou a temporada 1994-95, o peixe  participou de 18 jogos e marcou 7 gols. À partir desse momento começavam os esforços para forçar sua saída. Quando esteve no Rio em férias após o mundial, o Flamengo, com o apoio de seis empresas privadas, aproveitou para apresentar a proposta salarial ao baixinho. Além da vontade de retornar aos campos nacionais, a oferta representava 15% a mais do que recebia na Espanha, fusão perfeita entre o útil e o agradável. O jogador não pensou duas vezes, e voltando à Espanha dias depois, já desenhava em vermelho e preto seus  anos seguintes. Romário queria estar livre em Janeiro de 1995 para poder assinar com o Flamengo, que já tinha conhecimento sobre a tal cláusula liberatória - hoje conhecida como multa rescisória. Sendo assim, na parada de fim de ano em 95, o jogador procurou a diretoria do Barça informando que desejava deixar o clube e que não aceitaria sequer conversar. Em Dezembro do mesmo ano, o Flamengo depositou 4,8 milhões de dólares (6,1 milhões de reais em 1994) na conta do Barça, oficializando assim a transferência do melhor jogador do mundo para o futebol brasileiro. 

 "Romário nunca voltou de fato depois da Copa do Mundo. Seu corpo estava em Barcelona, mas sua mente estava no Rio" Stoichkov, em entrevista logo após a saída de Romário em 1995. 

Romário recebendo o prêmio de melhor do mundo
em 1995.
Em 30 de Janeiro de 1995, Romário recebera em Lisboa o prêmio de melhor jogador do Mundo pela FIFA, graças ao seu desempenho no Barcelona e na seleção brasileira. Você meu amigo, que está lendo este artigo nesse momento; já imaginou o melhor jogador do mundo sendo contratado por um time brasileiro no ano em que foi o grande destaque da seleção em uma conquista de Copa Do Mundo? Isso é inédito até os dias atuais e, provavelmente, seguirá assim por um bom tempo.

Romário foi espetacular enquanto jogador. Um gênio no mais futebolístico sentido da palavra. Sua passagem pelo Barça foi curta e intensa. Poderia ter sido mais longa, mas não teria como ser mais intensa. A relação com a imprensa, elenco e até com a torcida passou longe de ser algo caloroso e trabquilo. Apesar de ter feito bem seu papel dentro de campo, Romário sempre foi um peixe fora da água na Europa - com o perdão do trocadilho. Seu lugar foi, é e sempre será no Brasil. Ontem como jogador, hoje como deputado e amanhã... Só Deus sabe.

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