Fatos indiscutíveis sobre o Brasileirão de 1987
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Zico comemora o título brasileiro em 1987, no Maracanã |
Um dos episódios mais discutidos da história do futebol brasileiro também tem suas verdades. O Brasileirão de 87, como toda grande polêmica, tem pontos a serem debatidos e fatos incontestáveis, que mesmo assim podem ser rechaçados por Sport e Flamengo.
Antes de qualquer coisa, vale ressaltar o poder do elenco Flamenguista naquele ano, uma tremenda covardia. Além de Zico, maior da Gávea, formavam o grupo rubro-negro jogadores como Andrade, Zinho, Renato Gaúcho e Bebeto; astros eternos dos nossos campos. Isso é só para esclarecer que os cariocas jamais precisariam de tapetão para vencerem qualquer competição.
Onde a ZORRA começou
Para entendermos melhor é preciso voltar à temporada de 1986, um ano antes. O Vasco da Gama, maior rival do Flamengo, fazia um campeonato brasileiro digno de pena naquele ano, e a forma de disputa prevista para 87 era um risco para os cruz-maltinos. Com esse cenário, entrava em ação um personagem que ficaria bastante conhecido no futebol nacional: Eurico Miranda, na ocasião diretor de futebol do gigante da colina. Eurico começou a movimentar os bastidores para que a fórmula e a organização da competição nacional fossem alterados para a edição de 1987, deixando sem efeito qualquer resultado classificatório ou de rebaixamento em 86.
A ideia era criar um campeonato com 16 clubes, que seriam formados pelos 13 maiores do país segundo ranking de conquistas entre 1959 e 1985, mais as três equipes melhores classificadas entre todas as competições no período. A meta seria fundar uma associação de clubes e dirigentes que ficaria responsável pela montagem da forma de disputa e regulamento, contando com a CBF apenas para organização operacional e oficialização dos resultados. A ideia perdeu força com a recusa da maioria dos times.
1987: CBF e CLUBE DOS 13
Em 1987 a CBF enfrentava a crise financeira mais severa da sua história, dificultando demais seu poder de organizar qualquer competição. Desde o início da temporada os dirigentes da instituição buscavam junto aos clubes opções para que o brasileirão não fosse adiado ou cancelado, abrindo brechas para a criação de grupos distintos no cenário do futebol nacional. Em julho de 87, dois meses antes do início previsto do torneio, a confederação sugeriu que os clubes se responsabilizassem integralmente por suas despesas de viagem durante a disputa. A ideia não foi bem aceita pelos dirigentes, que entendiam que os custos até poderiam ser divididos, mas não integralmente destinados aos clubes. O presidente da CBF, Octávio Guimarães, buscou então patrocinadores que pudessem ajudar a bancar essa conta, mas as negociações atrasariam gravemente o inicio dos jogos.
Por conta de todo esse imbróglio, Eurico Mirando entraria em cena novamente, dessa vez com a faca e o queijo na mão. Para o cartola, não haviam razões para que os clubes ficassem à mercê da confederação se deveriam arcar com todos os custos. Foi assim que ressuscitava-se então a ideia exposta um ano antes, que contaria finalmente com o apoio de vários outros clubes. Assim nascia o CLUBE DOS 13, formado pelos treze primeiros colocados do Ranking da CBF até àquele momento. A nova entidade contava com, além do Vasco de Eurico Miranda; Atlético-MG, Bahia, Botafogo, Corinthians, Cruzeiro, Flamengo, Fluminense, Grêmio, Internacional, Palmeiras, Santos e São Paulo. Porém, para que a fórmula de disputa inicialmente proposta se tornasse possível, eram necessários mais três agremiações. Sendo assim, foram convidados Goiás, Santa Cruz e Coritiba.
Os problemas apareceriam logo depois, afinal, a elite do futebol brasileiro em 87 deveria ser disputada por 28 clubes, deixando assim muitos dirigentes furiosos. No dia 14 de julho, atendendo a reinvindicações, a CBF anunciava que não iria concordar com a organização da competição com o formato anunciado, pedindo ao CLUBE DOS 13 que repensasse os termos para um campeonato com 32 equipes divididas em módulos. A nova entidade ignorou inicialmente o pedido da confederação brasileira, e batizou seu primeiro torneio oficial de COPA UNIÃO. Contudo, na opinião de alguns dirigentes, não ouvir a CBF poderia significar sansões sérias da FIFA nos meses seguintes, o que obrigou o CLUBE DOS 13 oferecer a devida atenção ao órgão máximo do futebol no Brasil.
A CBF, então, anunciou que faria uma competição separada da Copa União com outros dezesseis clubes e, caso a nova entidade não aceitasse a fusão entre as duas, o torneio organizado pelo Clube dos 13 não seria considerado oficial, perdendo assim seu efeito classificatório para as competições sul-americanas e rankings da FIFA. Esse anúncio foi feito em 24 de julho de 1987 ao Clube dos 13, que dias depois, em 28/07, aceitaria oficialmente a imposição da CBF. A nova forma de disputa seria bem simples: dois módulos com dezesseis clubes, se enfrentando todos contra todos dentro de seus grupos em turno único, sendo essa a fase classificatória. Os quatro primeiros colocados disputariam semifinais e final, definindo assim os dois melhores de cada módulo. O dois primeiros colocados dos módulos verde e amarelo disputariam um quadrangular para decidir o campeão nacional de 87. O módulo com os 16 times do Clube dos 13 seria chamado de Troféu João Havelange (Módulo Verde). Pela CBF, as 16 equipes disputariam o Troféu Roberto Gomes Pedrosa (Módulo Amarelo). Contrário ao que muitos dizem, o acordo foi assinado no dia 03 de setembro de 1987; sete dias antes do início da competição, tornando-a indiscutivelmente oficial.
FASE FINAL DA COMPETIÇÃO E POLÊMICA HISTÓRICA
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Quando todos esperavam o quadrangular decisivo para enfim decidir o campeão brasileiro de 1987, o Clube dos 13 resolve voltar atrás e anular o acordo assinado por Eurico Miranda em 3 de setembro daquele ano. Na opinião dos representantes da entidade, não seria justo times de qualidade tão inferior aos que disputaram o módulo verde terem as mesmas possibilidades chegando no quadrangular. O olhar do Clube dos 13 foi discutido ao extremo, já que o Guarani-SP havia sido vice-campeão brasileiro em 86. A anulação, na visão da CBF, foi ilegítima e fez com que a entidade considerasse derrotas por WO os jogos que Inter e Flamengo não comparecessem. Portanto, no dia 7 de fevereiro de 1988, Sport e Guarani entraram em campo na Ilha do Retiro para o jogo que definiria o grande vencedor do campeonato de 1987. Com gol de Marco Antônio aos 19 minutos do segundo tempo, o time de Recife sagrou-se campeão brasileiro pela primeira e única vez na sua história. Meses depois, visando a boa relação com os principais clubes do país, a CBF afirmou que o título seria dividido entre Sport e Flamengo.
Alguns fatores foram determinantes para que FIFA, ao fim de 1988, obrigasse a Confederação Brasileira de Futebol a considerar o Sport Recife como único campeão brasileiro de 87. A velha frase que afirma que 'o combinado não sai caro' foi esclarecedor para a entidade máxima do futebol chegar a decisão. O Clube dos 13 fez um movimento legítimo quando criou um campeonato próprio por não contar com o apoio financeiro da CBF e, caso tivesse buscado, teria o apoio total da FIFA. Foi também legítima e legal a proposição da confederação nacional de buscar um acordo para a realização de um torneio mais abrangente, aceito e assinado oficialmente em 3 de setembro de 1987 pelo representante dos clubes da então Copa União. Dessa forma, tornava-se irrelevante a opinião do Clube dos 13 se justa ou não a disputa do quadrangular final, ele apenas deveria ter sido realizado. Por ter comparecido aos compromissos previamente estabelecidos, o Sport Club do Recife deveria, na visão da FIFA, ser considerado o único campeão brasileiro de 1987.
O Flamengo até tentou judicialmente reaver o título de maneira oficial no decorrer dos últimos 33 anos, mas não obteve sucesso. Venceu quem cumpriu os acordos e as regras pré-estabelecidas. Os flamenguistas ainda se consideram campeões daquele ano, o que obviamente não passa de um clubismo puro e genuíno. Assim como alguns dizem que o módulo amarelo seria equivalente à segunda divisão, pensamento totalmente equivocado. E essa, claro, é só mais uma controversa história do nosso futebol.
Fonte: Lance, jornal Brasil
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