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Experiência de campo em forma de caridade: direitos do Camp Nou estão à venda





Estamos atravessando um momento mais do que complicado, as consequências impostas pela pandemia do novo Coronavírus prometem ser devastadoras. Sendo assim, inúmeras empresas vem buscando alternativas para ajudar os mais atingidos de alguma forma, sendo a financeira a principal delas.

O FC Barcelona, clube fundamentado em uma série de simbolismos, por meio de sua questionável diretoria, se dispôs a vender os direitos comerciais do Camp Nou afim de reverter os lucros em doações para o combate à pandemia. A proposta seria a venda do nome do Estádio, um dos maiores símbolos do barcelonismo, por uma temporada. Com isso, o templo Blaugrana poderia carregar em sua fachada o nome de uma empresa qualquer em 2020/21. A ação pode ser vista por vários ângulos, dependendo da proximidade de cada um com a história da atual admistração do Barça. 

Marcada por decisões controvérsias, contratações discutíveis, gastos excessivos e escândalos envolvendo até a contratação de Fake News para manchar a reputação de jogadores do elenco principal; a trupe do presidente Josep María Bartomeu pode enganar qualquer um, menos eu. 

Desde 2014, o Barcelona vem aumentando muito seus passivos, que são dívidas oriundas de empréstimos, parcelamentos e financiamentos - majoritariamente. A compra de jogadores que, para quem não sabe, na maioria das vezes é parcelada pelos clubes, ocupa um espaço descumunal na listagem de gastos anuais da instituição. Para se ter uma ideia, as parcelas das recentes contratações feitas pela atual diretoria do Barcelona chegará, em 2020, a impressionantes 225 milhões de euros. Um absurdo para um clube que faturou €840 milhões em 2018/2019, mas que tem comprado muito mais do que vende - o que explica o aumento nos passivos. 

Por isso vejo essa proposta, já aprovada pelos sócios, como um teste de campo para um modelo de monetização direta dos 'titles rights' do Camp Nou, que poderá se tornar recorrente nos próximos anos. Aliás, não podemos esquecer que o plano de ampliação do Estádio está mais vivo do que nunca, sendo a comercialização dos direitos uma potencial maneira de cobrir os custos da obra. 

É nessa linha de pensamento que não acredito na boa intenção da direção do clube, que coloca em risco a autonomia administrativa de um dos maiores ativos da instituição, para que seja feita uma pesquisa de mercado às custas do sofrimento dos menos favorecidos e suas respectivas famílias. O certo é que existem formas menos arriscadas de agregar ajuda nesse momento, e isso precisaria ser revisto. 

A responsabilidade de grandes marcas do esporte em tempos de crise mundial vai muito além dos resultados desportivos e do balanço econômico, passando muito mais pela mensagem que cada um consegue passar por meio de suas atitudes. Dessa forma, para quem conhece a atual admistração do FC Barcelona, sabe que o sinal transmitido nessa ação representa extrema periculosidade a história culé. 

O Barcelona representa a resistência ao sistema, e seus estádios estão diretamente ligados a isso. A primeira casa, o Les Corts, obra organizada pelo fundador do clube, o suíço Joan Gamper, em 1922, fora já naquela época construído 100% com investimento dos sócios da instituição. Não diferente foi a concepção do Camp Nou. Em 1954, em meio ao caos provocado pela ditadura franquista, o então presidente Francesc Miró-Sanz, conseguiu arrecadar os fundos necessários para o novo estádio em um momento onde instituições catalãs não tinham acesso a financiamentos por ordem direta do governo. Desde a sua inauguração em 24 de setembro de 1957, o Camp Nou jamais cedeu sua força comercial para empresas privadas ou públicas, transformando a recente  medida em um precedente bastante discutível.

Foto: fcbarcelona.com

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