Está na hora do esporte criar asas?
Uma notícia me pegou de surpresa
na manhã desta segunda-feira: o Bragantino, um dos mais tradicionais times do
estado de São Paulo, vice-campeão brasileiro de 1991 e que está há 20 anos sem
jogar na elite do país anunciou uma parceria com a empresa de bebidas austríaca
Red Bull. Em entrevista à Rádio 102 FM de Bragança Paulista o presidente do
Leão da Zona, Marquinhos Chedid informa que a empresa famosa por seus
energéticos injetará R$ 45 milhões em investimentos no clube do interior
paulista. É interessante lembrarmos que a Red Bull já possui um clube em
Campinas, o Red Bull Brasil, distante apenas 65 km de Bragança Paulista. Se a
companhia europeia manterá as duas equipes é algo a se ver no futuro. O
projeto, evidentemente, é ambicioso, e tentará repetir o sucesso do Leipzig,
outro time comandado pela empresa. O clube alemão fundado em maio de 2009 subiu
da quinta à primeira divisão nacional em inacreditáveis sete anos, e já no seu
oitavo ano de fundação brigou com o poderosíssimo Bayern München pelo título
alemão, que acabou escapando. Com apenas nove anos de vida o Leipzig já está em
sua segunda participação consecutiva em competições europeias. No Brasil o
caminho parece até mais fácil. O Bragantino já é clube de Série B, e o acesso à
divisão de elite já nos primeiros meses de parceria parece ser bastante viável.
Em outro trecho de sua entrevista o presidente Chedid afirma que o projeto para
o futuro é colocar o Leão da Zona na Copa Sul-Americana ou até mesmo na Copa
Libertadores. Convenhamos que dinheiro não será um empecilho. Mas qual o
reflexo disto no futebol sul-americano?
“Mas outros clubes da Red Bull no
mundo não surtiram efeitos similares”, talvez argumentem alguns. É bem verdade
que o New York Red Bulls, mesmo com Thierry Henry no elenco, não conseguiu
absolutamente nada de relevante desde o ano de 2006 quando se transformou de New
York MetroStars em Red Bulls. De maneira similar, o Red Bull Brasil, já citado,
nunca conseguiu sair da Série D do Campeonato Brasileiro, e o Red Bull Ghana
foi extinto apenas seis anos após a fundação sem resultados aparentes. O Red
Bull Salzburg domina na Áustria, mas até a temporada passada se mostrava praticamente
irrelevante no cenário continental (vale lembrar que a equipe só foi eliminada
na última edição da Europa League nas semifinais para o Olympique Marseille na
prorrogação). Contudo, é necessário analisar todos os lados do prisma. Exceção
feita à filial africana, todos os outros estão sediados em piscinas de dinheiro.
A MLS, mantendo a tradição americana de ligas formadas por franquias que
compram suas vagas na primeira divisão parece ser o lugar ideal para um clube que
não tem nada a perder, como é o caso do New York. A Europa, gourmetizada e rica
é um oásis para Salzburg e Leipzig que podem demonstrar sua qualidade com a bola
nos pés e os bolsos recheados. É claro para qualquer espectador que, tanto
dentro da Alemanha quanto na Áustria, os co-irmãos taurinos colecionam
resultados muito em função do poder da conta bancária. E se isso já acontece em
um continente tão abastado como o europeu, imaginem o que um clube com tanto
poder pode fazer no Brasil. Um país onde o clube com o maior patrocínio acaba
de ser coroado o rei do país, escorado em seus mais de R$ 80 milhões anuais. O
país que teve como último campeão da primeira linha continental uma agremiação que só conseguiu
resultados após quitar suas monstruosas dívidas e terminou o ano anterior com
um superávit de cerca de R$ 75 milhões. Um país onde o vice-campeão nacional recebe
a maior fatia de direitos e cotas de transmissão de todo o campeonato – um acordo
que pode chegar aos inacreditáveis R$ 120 milhões anuais, além de ter um novo patrocinador
que deverá fazer uma piscina de moedas de invejar ao personagem Tio Patinhas. A conclusão é de uma obviedade
tão grande quanto as cifras apresentadas: Um acordo desta magnitude é meio
caminho andado para o sucesso, e o Bragantino tem totais condições de repetir o
sucesso do co-irmão Leipzig. Pode até não ter jogadores de alto calibre neste
momento, mas uma vez na Série A terá culhão de adquiri-los. Os valores não
serão problema.
Não me entendam mal, não sou
contra o reerguimento de um clube tão relevante. De fato, torço para que outros
clubes como Portuguesa, Juventude, Guarani, Náutico e tantos outros tão
importantes para a história do futebol nacional se levantem novamente e voltem
aos seus tempos de glórias passadas. Mas o xis da questão talvez esteja em: a
que custo? Confesso que temo por um processo de apequenamento dos gigantes que não terão o mesmo poder no talão de cheques. Temo por um processo de "espanholização" do futebol brasileiro, no qual apenas dois ou três times disputariam os campeonatos grandes e deixariam os demais brigando contra quedas como cães ao lados da mesa que esperam pacientemente por migalhas que caem do prato de seus donos. Temo por uma disparidade ainda maior dos clubes no que se refere ao nível técnico de jogo. Para exemplificar: quando um matemático pensa ter
encontrado uma equação ele precisa testá-la nas mais diversas situações para se
assegurar de que esta descoberta realmente está correta. Quando ele percebe que
sua teoria está exata, ela se torna uma lei. A equação do futebol é simples:
mais dinheiro leva a melhores jogadores, isto melhora o nível de jogo do time,
o que por sua vez leva a resultados melhores. E uma vez que isso ocorre, a teoria
se solidifica e se torna uma lei, tão imutável quando a própria matemática. Caberá
ao Bragantino testar a equação supracitada neste ano e ver se esta teoria se
tornará uma lei no seu caso. Porém, o resultado não poderá ser representado pelo sinal de igual. A igualdade já ficou para trás. Hoje, estamos vivendo em uma época na qual o melhor
resultado é o mais desigual, o de maior discrepância. Se fosse fã de futebol,
Pitágoras hoje estaria agitado. Viva o Leão da Zona, que ao que tudo indica,
devorará e destroçará o que vier pela frente. Ou seria o Touro Vermelho da Zona?
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