Por que o Flamengo não foi rebaixado em 1995?

Quem nunca ouviu a expressão "tapetão"?! Acho que poucos são os seguidores do esporte mais popular do planeta que nunca se depararam com esse termo. Muitos são os casos, coisas simples, como um efeito suspensivo pra não perder um jogador importante em uma decisão, adiando o cumprimento de uma suspensão. Uma ação preliminar cancelando uma decisão de perda de mando de campo. São coisa pequenas, que muitas vezes decidem um confronto. Mas estão aí, e por muito tempo foram uma sombra para o futebol brasileiro.

Uma das mais escandalosas "viradas de mesa" da história do futebol aconteceu em 1995, quando um clube que estaria rebaixado por estar entre os quatro últimos colocados, foi beneficiado por uma "mudança" repentina no regulamento, que passou - de uma hora pra outra - a rebaixar apenas dois times. Que bela coincidência, não é?

O grande beneficiado dessa história foi o Flamengo, clube que vivia o ano do seu centenário, e um rebaixamento em tal ocasião seria desastroso. Tão desastroso quanto, foi o desempenho do rubro-negro naquele brasileirão, e só mesmo o tapetão poderia livrar o clube de maior torcida do país de um descenso que parecia inevitável.

Elenco e temporada:

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O ano de 1995 tinha tudo pra ser o ano dos sonhos para o torcedor do Flamengo, no entando, tudo se aproximou muito do maior pesadelo pra história de um clube com tal magnitude.

Aquele era o primeiro ano da administração Kléber Leite, e a temporada começou cheia de expectativas, com a contratação do melhor jogador do Mundo, o 'baixinho' Romário. O craque havia sido o herói da seleção brasileiro na conquista do tetra nos Estados Unidos, e era ídolo no Barcelona. Edmundo, outro jogador que estava no auge, chegou para formar a dupla de ataque "dos sonhos", com a intensão de ganhar tudo. O elenco rubro-negro ainda tinha nomes como Sávio, o zagueiro Ronaldão e o goleiro Paulo César; todos atletas de nível seleção brasileira.

No campeonato carioca, o time comandado pelo técnico Edinho já não conseguiu confirmar o favoritismo, quando na final contra o Fluminense, viu Renato Gaúcho marcar de barriga o gol do título tricolor. Na copa do Brasil, eliminação para o Grêmio nas semifinais, sendo assim, com dois campeonatos a menos na agenda, restando apenas o brasileirão para que se confirmasse a força daquele trio ofensivo tão - previamente - temido. O Flamengo também participou da já extinta 'copa dos campeões mundiais', torneio que reunia os clubes brasileiros que já haviam conquistado a honraria. Na oportunidade, São Paulo, Flamengo, Grêmio e Santos participaram. O time de Romário e companhia perdeu os três jogos que disputou, saindo da competição sem sequer somar um ponto.

Em 19 agosto de 1995, começa - finalmente - o campeonato brasileiro. Com uma fórmula estranha, a competição contava com 24 equipes, que jogavam todos contra todos uma vez, mas, dividido em duas partes como critério de classificação - como você pode ver detalhadamente clicando aqui - e com a divisão de dois grupos pelo mesmo motivo.

Mas, se no campeonato carioca o Flamengo chegou na decisão, e na copa do Brasil alcançou as semifinais; no campeonato nacional as coisa ficaram muito longe disso. Com uma campanha pra lá de vergonhosa, tudo o que o rubro-negro conseguiu foi uma 21ª colocação, que, pelo regulamento inicial do campeonato, rebaixaria o Flamengo no ano do seu centenário.

Os cariocas, já comandados por Washington Rodrigues, conquistaram apenas 5 vitórias em 23 partidas; somando mais 9 empates e 9 derrotas, terminando a competição com apenas 24 pontos. Escapar do rebaixamento era quase impossível, ja que o time precisaria vencer os últimos dois jogos, e ainda torcer por uma combinação de resultados. O que naquele momento era conta demais pra se fazer, sendo que a equipe nem mesmo conseguia vencer.


A reviravolta:

No dia 22 de dezembro o Flamengo jogaria contra o São Paulo em Juiz de Fora-MG. Nesse mesmo dia, a CBF fazia uma reunião no Rio de Janeiro para algumas "adequações" na forma de disputa da competição em 1996. Uma dessas "adequações", incluía a redução do número de clubes rebaixados; caindo de quatro para duas equipes que cairiam para a segunda divisão no ano seguinte. Até aí tudo bem. Porém, em uma decisão que até hoje ninguém entendeu, os mesmos dirigentes, sem consultar os clubes, resolveram aplicar na edição de 1995 (que já estava na penúltima rodada da fase de classificação) uma das mudanças previstas para o campeonato de 96, fazendo com que apenas dois clubes conhecessem o descenso naquele ano.

A decisão foi conhecida pelos clubes após aquela rodada (22ª), e caiu muito mal aos ouvidos dos torcedores. No entando, foi pouco noticiada, pois os envolvidos com a organização do futebol brasileiro não tinham o menor interesse em não ter em seu catálogo de jogos o clube de maior apelo nacional, e que contava em seu elenco com o melhor jogador do mundo. Aquilo seria financeiramente trágico.


A CBF era presidida por Ricardo Teixeira, o homem que assinou uma das decisões mais vergonhas do nosso esporte. Não podemos ignorar também o fato de Vitória da Bahia e Vasco não terem reclamado nem um pouco da decisão, pois foram beneficiados também. O Vasco terminou empatado em pontos com os rubro-negros, enquanto o Vitória ficou na 22ª posição, e estaria igualmente rebaixado.


São episódios da história do nosso futebol que não devem ser esquecidos, para que não sejam repetidos.


Créditos das imagens: Marcos Alves (Gazeta press)