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Lendas do Baseball: Quando 42 deixou de ser só um número



O primeiro jogador de baseball negro da história



Em todos os esportes temos sempre aquele jogador que fica marcado por ser diferenciado não só dentro de campo, mas também fora dele. No baseball não é diferente, nessa série pretendo trazer um pouco sobre lendas do passado e também grandes jogadores do presente. Lendas do Baseball: Uma viagem ao mundo de um dos esportes mais antigos dos Estados unidos.

O número quarenta e dois


Nascido em 31 de janeiro de 1919, Jack Roosevelt Robinson ou Jackie Robinson, teria uma importância gigante para o baseball dentro dos Estados Unidos e quebraria uma das maiores barreiras raciais na história. Você não conhece essa história? Você não sabe de quem estou falando? Então vem comigo! Hoje vou te contar a história e trajetória do primeiro jogador negro que já atuou na Major League Baseball, hoje é o dia de Jackie Robinson, o superman.


A história:

A liga de baseball foi criada em 1869, quatro anos após a guerra civil, era composta somente por jogadores brancos. Em contraponto, os jogadores de outras raças e ou etnias só podiam atuar nas ligas negras ou como eles chamavam na época Negro Leagues. Porém tudo isso havia de mudar, mais precisamente um cidadão vindo da Geórgia.

No dia 15 de abril de 1947, mais de sessenta anos de segregação racial chegavam ao fim na MLB. Ele foi o primeiro jogador negro a atuar na liga no século XX e também quebrou mais uma barreira logo após: o primeiro jogador negro a ganhar o título da World Series em 1955, o primeiro a ser MVP em 1949 e o primeiro a ser introduzido no Hall da Fama em 1962. Ele ainda foi o primeiro de todos os jogadores a vencer o prêmio de Rookie of the Year em 1947 e o primeiro jogador de baseball, negro ou branco, a ter o rosto estampado em um selo postal.

O número de estatísticas atribuídas ao Robinson não dão total dimensão do quão grandioso ele foi para a história do esporte americano. Por conta do racismo institucionalizado e da segunda guerra mundial, ele só foi atuar por um jogo na Major League aos vinte oito anos de idade, dessa forma sua carreira teve somente dez anos de duração. Seu aproveitamento no bastão era de aproximadamente .311 ou 31,1% e mesmo assim seus números em função do pouco tempo na liga é quase que inexpressivo para o padrão Hall da Fama.

Um tigre, um leão, nomes que sempre foram ligados ao camisa quarenta e dois do time do Dodgers, na época Brooklyn Dodgers. Ele nunca foi um exímio canhão no bastão, mas sua noção da zona de strikeout era algo incrível, porém mesmo que rebatendo fosse extremamente inteligente e conseguisse mandar a bola para qualquer lado do campo, correndo é onde ele mostrou porque era tão diferenciado - rápido, inteligente, ousado e agressivo. Um corredor que intimidava adversários, com ele em base qualquer arremessador tinha medo, ele basicamente reinventou a arte de roubar bases - foram dezenove roubos de homeplate, algo que somente Frankie Frisch conseguiu fazer (New York Giants e Saint Louis Cardinals). Em 1955 ele se tornou o primeiro jogador de um seleto grupo de doze que conseguiu roubar uma base na World Series.

Jackie era um atleta nato, tinha habilidade no futebol americano, baseball, basquete e atletismo. Na sua universidade a UCLA, em 1941, suas médias eram de onze jardas por carregada, além de ser o cestinha da sua conferência. Ele também foi campeão de salto em distância no ano de 1940 e até iria ser representante americano nos jogos olímpicos se não houvesse o cancelamento em função da guerra no continente europeu. Jackie ainda foi campeão de natação, semifinalista em um torneio de tênis e MVP do baseball, como junior, na UCLA.


Robinson revoluciona o esporte americano

Combatendo o racismo

Além de jogador, Jackie também atuou como oficial do exército dos Estados Unidos, tendo servido por um curto período em Pearl Harbor, 1942. Saindo de um acampamento em Kansas, Forte Riley ele foi realocado para Fort Hood no Texas. Em julho de 1944, ele desafiou um motorista branco que mandou que ele fosse para o fundo do ônibus "onde os negros deveriam sentar". Quando o comandante da base e a polícia militar deram apoio ao motorista, Robinson se opôs e isso fez com que fosse mandado à corte marcial. Depois de responder ao processo, foi dispensado do exército com honras.

Sabendo da dificuldade e luta contra a autoridade militar, Branch Rickey (general manager e co-proprietário do Brooklyn Dodgers na época) cotou Jackie Robinson como principal candidato para acabar com as barreiras raciais que existiam na época, Rickey queria acabar com tais barreiras também. Jackie era um ex-militar, inteligente e articulado que já conhecia e tinha contato eminente com os brancos.

O começo

Assim, no ano de 1945, Jackie Robinson se juntava ao time do Kansas City Monarchs, um time da Negro American League. Em outubro do mesmo ano Robinson assina um contrato com o time de minors league do Dodgers, Montreal Royals. Uma reunião que se tornou lendária, Branch Rickey conseguiu que Jackie prometesse que ele seguraria sua língua e seus punhos em troca da oportunidade de se tornar o primeiro jogador negro nas Majors.

No ano seguinte, durante um spring training pelos Royals, Robinson sofria de uma dor crônica no seu braço o que colocava uma desconfiança de que "negros não poderiam jogar com brancos". Sua estreia foi contra o time do Jersey City Giants. Na vitória por 14-1, o eterno #42 só não fez chover. No seu primeiro momento no bastão um home run de três corridas, na quinta entrada ele roubou uma base e chegou na terceira em uma jogada de ousadia.

E para fechar tinha que ter sua marca, sendo muito rápido e toda hora indo e voltando, ele confundiu tanto o arremessador adversário que este acabou cometendo um balk impulsionando sua corrida.

No intuito de manter a segregação racial que havia no baseball os organizadores da liga à época impuseram algumas condições estúpidas. A primeira que apenas jogadores foras de série poderiam chegar nas grandes ligas. A mais estúpida de todas: os fãs brancos não estariam dispostos a assistirem jogadores negros e nem muito menos dividir o espaço das arquibancadas com torcedores negros. Mesmo assim Jackie não ligou para tais condições. O time do Royals dominou a International League e todos queriam vê-lo jogar, com públicos que ultrapassavam às quinhentas mil pessoas.

Com o final da temporada chegando, Robinson teve o aproveitamento de 34,9% no bastão, marcando 113 corridas em 124 jogos. Ele conduziu os Royals ao título da International League e à vitória da Little World Series. Jackie foi carregado no ombro por fãs e um jornalista da época ainda escreveu: "provavelmente esse foi o único dia da história que um homem negro foi seguido por uma multidão de pessoas brancas não por ódio, mas por amor".

Jackie atuando pelo Kansas City Monarchs, Negro League

Enfim nas Majors

A estreia de Jackie Robinson nos Dodgers foi contra o Boston Braves (atual Atlanta Braves). No jogo contra os Reds em Cincinnati é contado, ainda que não haja documentos que comprovem a história, que Robinson sofreu ameaça de morte. Pee Wee Reese, shortstop dos Dodgers, nativo do Kentucky, num gesto de coragem entrou em campo abraçado ao rookie demonstrando apoio público.

Porém a pior experiência aconteceu em um jogo contra o Philadelphia Phillies. Lideradores pelo manager Ben Chapman o time dos Phillies insultou com tanta crueldade que Jackie admitou ao final do jogo: "Eu pensei em desistir". O episódio entretanto, serviu para fortalecer Jackie, como também converteu algumas pessoas que o odiavam. A reação pública contra Chapman foi tão forte que ele foi obrigado a pedir uma foto junto de Jackie, e prontamente Robinson o atendeu.


Na imagem Ben Chapman e Jackie Robinson, após todos os contratempos
De sua temporada de estreia até 1954 Robinson nunca teve menos que 30% de aproveitamento no bastão. A temporada de 1953 foi especialmente espetacular. Jackie Robinson registrou 32.9 nos hits, 95 RBI's e marcou 109 corridas. A campanha de 1954 foi a última boa temporada de Jackie. Alternando entre o left field e a 3B ele teve um aproveitamento médio de 31.1%, mas a idade e as inúmeras lesões permitiram apenas sete roubos de base.

A hora de parar e a eternidade

Temporadas seguintes foram de declínio físico e de queda drástica de desempenho. Em janeiro de 1957 Jackie Robinson anunciou a sua aposentadoria do esporte. Mesmo fora do jogo os holofotes continuaram-o perseguindo. Continuou sua luta em favor dos afro-americanos e um lutador dos direitos civis. Cinco anos depois Jackie foi eleito para o Hall da fama do baseball. Sua indicação foi junto do lendário Bob Feller, arremessador do Cleveland Indians, que disse certa vez que o físico de jogador de futebol americano faria com que Jackie não rebatesse uma bola sequer. Anos depois, Robinson revelou que sofria de diabetes e sua saúde piorou com certas crises provocadas pela doença. Aos 53 anos ele sofreu um ataque cardíaco e faleceu na sua casa em Stamford. Precisamente no dia 24 de outubro de 1972, meses depois de ter a camisa 42 retirada pelo time dos Dodgers.

Eterna placa do Hall da Fama de Jackie

A camisa 42 é eternizada

Quinze anos depois, no aniversário de número quarenta da quebra de barreira racial no baseball o prêmio de Rookie Of the Year foi nomeado como Jackie Robinson Award. Já na comemoração dos cinquenta anos de estreia de Jackie nas Majors sua camisa foi retirada por todos os times da liga.

Alguns números e prêmios na carreira: 

6x All-Star (1949-1954) 

World Series (1955) 

National League MVP (1949) 

MLB Rookie of the Year (1947) 

MLB batting champion (1949) 

– 2x líder em roubos de base da MLB (1947 e 1949) 

– Integrante do time do século da MLB 

– Indicado para o Hall da Fama (1962, 77.5% dos votos)

Jackie mudou gerações, pessoas e contextos. Onde todos falavam que negros não poderiam ir ele foi. Chegaram a dizer muitas vezes que ele não poderia ser jogador e ele foi um dos maiores jogadores de baseball da história. Vivemos em um país onde a injuria e o preconceito é vivido na pele e o pior, depois de mais de um século que Jackie nos presenteou com sua capacidade incrível de lutar, ainda vemos isso em vários locais, não só dos Estados Unidos, mas também por vários lugares espalhados pelo mundo. Porque ele conseguiu mudar muita coisa, mas não pôde fazer tudo sozinho.


Um comentário:

  1. Anônimo09:43

    Parabéns pelo texto ! Me emocionei ao assistir o filme 42: a história de uma lenda

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