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A rosa que cresceu do concreto - Carta para Derrick Rose






Seja bem vinda, rosa de pétalas danificadas.

"Sabe, você não perguntaria porque a rosa que cresceu a partir do concreto tem pétalas danificadas, pelo contrário, celebraríamos sua tenacidade , admiraríamos sua vontade de chegar ao Sol. Bem, nós somos rosas. Isto é o concreto. Estas são minhas pétalas danificadas. Não me pergunte porque, me pergunte como"
                                                             
                                                                - Tupac, The Rose that grew from concrete

Derrick Martell Rose. Para este jovem adulto que vos escreve, nascido nos anos 90, fanático pelos Bulls e que não viu o maior de todos no seu auge, saiba que você foi alguém pelo qual perdi várias noites de sono. Lições de casa se tornaram secundárias. As indagações da adolescência sumiram por várias madrugadas e tardes de Domingo. Eu vivi seu sonho como um irmão distante que deseja o melhor ao outro. As infiltrações 'imarcáveis', os jumpshots precisos e os contra ataques mortais estarão na minha memória até o dia em que eu partir. Nos tempos difíceis , você foi minha melhor companhia. Hoje, me doi como perder um ente querido ver o seu ocaso. Como mesmo de vida feita, você tenta chegar aos raios de sol novamente. Me dói ver as franquias lhe trocando e dispensando como uma lata de refrigerante. Como podem tratar assim o MVP mais jovem da história? Alguém que levou meu time de coração a vitórias e mais vitórias após anos de fracasso?! Alguém que deu alegrias a um garoto cheio de problemas sem sequer conhecê-lo?

Me dói ler nos sites e ouvir das pessoas que você está acabado. As piadas com suas lesões. Os comentários jocosos sobre seu papel nos times. A surpresa geral sobre seu bom desempenho ano passado.

Eu sei Derrick, as 32 cirurgias cobraram seu preço. Hoje, aos 29 anos,  provavelmente você não consiga mais marcar 44 pontos nos Hawks. Talvez não destrua mais os Celtics na pós temporada como em 2009. Talvez você nunca mais marque um buzzer beater contra os Cavs. E eu tenho certeza que Goran Dragic tem pesadelos contigo até hoje.

Me lembro da primeira vez que ouvi seu nome. Eleito terceiro melhor armador High School da história pela NBA Magazine, voce já despertava interesse de técnicos universitários desde garoto. Não entendi muito bem quando escolheu ir para Memphis, mas sei que devia saber o que estava fazendo, pois após um ano de NCAA seu talento era pequeno demais para o universitário.

Eu ainda não entendia muito bem aquele sistema de loteria no Draft, mas tínhamos apenas 1,7% de chances na primeira escolha. Seria difícil aparecer um garoto que nos mudasse de patamar. Talvez sobrasse algum dos irmãos Lopez de Stanford. Com muita sorte, algum da dupla de UCLA: Russel Westbrook ou Kevin Love. Como num passe de mágica, nossas bolinhas foram sobrando e incrivelmente tínhamos a primeira escolha geral! Falou-se muito em Michael Beasley ou O.J. Mayo, mas era você, Derrick, o destinado a voltar para sua casa.

Por compromissos, perdi muito de  seu início na liga, porém fiquei muito feliz de saber que o Rookie of the Year estava em suas mãos  E foi só. Não éramos fortes o bastante. No ano seguinte, seu primeiro ALL Star e campanha 41-41. Nada mal. Playoffs. Camisa mais vendida da liga. 39 pontos e 15-22 em arremessos  nos playoffs contra os Celtics. Coitado de Rajon Rondo, sequer te achou em quadra. Uma doída eliminação para os Cavs em 5 jogos adiou o sonho do sétimo título. 

Aquele 2010 foi de extremos. Ao mesmo tempo que as coisas estavam difíceis em casa, te vi fazer 39 pontos no Pistons, 13 assistências contra os Blazers e encerrar o jejum de 5 anos contra os Lakers. Chegamos a incríveis 62 vitórias e a melhor campanha desde 97. Seu primeiro ALL Star como títular e o MVP indiscutível. Aos 22 anos...

Vieram os playoffs e Pacers e Hawks ficaram pra trás . Paramos no Big 3 de Miami. A sensação era de que faltava pouco para alcançar às finais. Chegou 2011 e de contrato renovado, as lesões começaram a surgir. Mesmo com seus 39 jogos na temporada regular, nosso time era forte e passamos em segundo num leste muito competitivo.

28 de Abril de 2012. Tenho esta data gravada na cabeça pois foi ali que seu brilho começou a se apagar. Lembro que o dia havia sido ótimo, emprego novo e novos amigos que surgiam.  A noite estava reservada ao meu ídolo e grande companheiro. Os Sixers eram bons, mas nós tínhamos você, D- Rose. Sentei no sofá e te vi dominar a partida. Então veio o choque. Não era pra você estar lá. Vencíamos por 12 pontos a 1:22 do fim. Talvez Thibodeau tenha lhe usado em excesso. Talvez você tenha calculado mal o salto .Talvez só tenha sido como era pra ser. Vi você cair no chão e levar a mão ao joelho esquerdo. Lembro do nó da garganta, da lágrima que escorreu devagar e do aperto no peito. Ali, eu senti que momentos difíceis viriam. Você, meu refúgio em meio ao turbilhão que eu vivia, parecia um mero mortal. Entrou num buraco que nunca mais conseguiu sair. Desde então, vi e vivi seu martírio, suas novas lesões, seus reinicios e novas quedas. Vi você partir para Nova Iorque contra minha vontade e ser o melhor armador deles desde Chauncey Billups. Vi você ser reserva de José Calderon e Isaiah Thomas naquela bagunça dos Cavs. Vi seus bons jogos pelos Wolves. Vi o Jazz te dispensar logo após uma troca. Que me perdoem, fregueses, mas não se joga um MVP no lixo como uma lata de coca cola.

Dias atrás, como fã de hip Hop que sou, ouvi uma música do Tupac e me lembrei de ti novamente. Do seu desabrochar, dos raios de sol te tocando e de suas pétalas danificadas. Talvez você não saiba, mas meu primeiro salário foi para uma camisa com teu nome. Aquele número '1', em vermelho, representava bem o quão incrível  você é. Pode parecer insignificante para alguém que arrecadou mais de 100 milhões de dólares somente em salários, mas saiba que foi um dos melhores dias da minha vida. Talvez um dia eu possa te contar tudo isso pessoalmente e te dar um grande abraço. Afinal, você me fez acreditar nos sonhos. Estive contigo nos tempos de glória , e estarei, como um irmão que se preza, onde quer que você vá. Seja num outro time com seus 10 minutos por jogo, na aposentadoria após as malditas 32 cirurgias, ou quem sabe num retorno pra Illinois num lindo final feliz. Isso não importa . Sou e serei eternamente grato por  ter me mostrado que não importa as dificuldades, sempre há uma saída através da nossa força de vontade. Por ter me feito sorrir e chorar de alegria. Por ter feito um garoto cheio de problemas a milhares de quilômetros um pouco mais feliz.

Obrigado, Derrick.

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