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O maior da nação: França de Zidane ou de Platini?




Todo país com tradição e paixão pelo futebol tem suas discussões internas sobre quem são seus ídolos maiores. Os debates são - em sua maioria - forjados a partir dos clubes de coração dos que estão discutindo o assunto, afinal, é da natureza humana buscar sempre o que lhe é conveniente. No Brasil, Pelé tem uma unanimidade difícil de entender, mesmo para pessoas que sequer o puderam contemplar em atividade. Por outro lado, flamenguistas endeusam Zico, vascaínos idolatram Dinamite e as opiniões seguem em rota de colisão com a realidade. 

Pensando nisso, começo hoje a nova coluna do El Clásico Sports: 'O Maior da Nação'. Vamos abordar discussões sobre grandes jogadores da história do futebol, de diferentes nacionalidades. Para iniciarmos, os franceses. A ideia é trazer uma certa lógica para os artigos, portanto, não vamos comparar Zidane com Mbappé, pois uma carreira consolidada não pode ser avaliada por inicios promissores. 

O maior da nação: França de Zidane ou de Platini? 

Na França as opiniões se dividem, assim como na maioria dos países. Michel Platini é a imagem do início da consagração francesa, que teve nos anos 80 sua primeira conquista de peso dentro do esporte. Em contrapartida, Zidane carrega em sua trajetória o protagonismo do auge da glória dos les bleus, alcançado em 1998. 

As similaridades entre eles vão além da relevância obtida com a camisa da seleção, suas carreiras em clubes também são semelhantes em alguns aspectos. Apesar de serem vistos como os maiores nomes do futebol francês em todos os tempos, Platini e Zidane não tiveram a força necessária para levar os clubes e a liga do país ao topo da Europa, fator que só não pesa contra eles por ser um feito até hoje inalcançado. Para ser honesto, nenhum deles chegou a ter destaque em grandes agremiações domésticas. 



Platini iniciou a carreira no Nancy em 1972, então na segunda divisão, estreando no profissional do clube com apenas 17 anos. Pelo time do nordeste da França, o jogador  disputou 213 partidas, marcou 127 gols e conquistou a Copa da França da temporada 1977/1978, maior conquista da história da instituição até então. Zidane teve um início parecido. Em 1988 ingressou no modesto Cannes, time do sul do país. No entanto, ao contrário do ídolo Platini, Zizou não teve o mesmo sucesso, despedindo-se do clube após o mesmo ser rebaixado na temporada 1991/1992. O jovem meia disputou 67 partidas e marcou 6 gols por seu primeiro time profissional.

Se em 1979 Michel Platini se transferiu para o Saint-Étienne após o fim do contrato e sem render nada financeiramente ao Nancy, o Cannes, por outro lado, arrecadou mais de 7 milhões de euros com a venda de Zidane ao Bordeaux em 1992; uma das maiores transações do verão europeu daquele ano. Quando chegou em seu segundo clube, Platini vinha de seu primeiro mundial, disputado na Argentina em 1978. Foi lá também que o astro marcara seu primeiro gol em mundiais, anotado contra os donos da casa na derrota dos azuis por 2 a 1. A França acabou sendo eliminada ainda na primeira fase do torneio e, mesmo assim, Michel Platini já era tido como o principal jogador do futebol nacional. Pelo Saint-Étienne, em 1980/81, o craque conquistou seu primeiro título de Liga, marcando 20 gols e sendo o destaque do torneio. Seu desempenho em três temporadas pelos Saints chamou a atenção da Juve, que em junho de 1982 anunciou sua contratação.

Quando chegou no Bordeaux em 1992, Zidane ainda não tinha nenhum título como profissional, fato que ainda levaria três anos para ser mudado. Em sua penúltima temporada por lá, ele conquistaria a extinta Copa Intertoto Uefa de 1995, competição tratada como uma terceira divisão do futebol europeu, atrás da Champions League e Europa League. Após 174 jogos, 47 gols e apenas 1 título de pouca expressão, Zidane deixava a França 6 meses antes do fim do contrato para se juntar à Juventus da Itália. A equipe Bianconera pagou a bagatela de 3,5 milhões de euros pelo jogador, 50% abaixo do que o Bordeaux havia pago em 92. 

A Juventus representa o grande fator de espelhamento entre Zinedine Zidane e Michel Platini, já que foi atuando pela vecchia signora que os dois chegaram ao auge da seleção francesa. Platini fez parte do grande time da Juve dos anos 80, tendo ao seu lado nomes como Dino Zoff, Claudio Gentile e Paolo Rossi. Zidane, por outro lado, chegou na Itália logo após a Juventus ter vencido a Liga dos Campeões da temporada 1995-96, também com grande elenco. Porém, as comparações com o compatriota Michel Platini fizeram dos primeiros meses do craque em Turim um verdadeiro inferno, muito por conta da desconfiança de imprensa e torcida causadas por tal comparativo. No entanto, os dois ganharam títulos e reconhecimento com a camisa preta e branca, coincidindo com seus maiores feitos pela seleção da França. 

Michel Platini e o auge da carreira

Platini conquistou suas três bolas de ouro em sequência: 1983, 84 e 85. O prêmio na ápoca era oferecido ao melhor jogador europeu da temporada, e sua atuação na Copa do Mundo da Espanha, em 1982, foi determinante para a conquista do prêmio e para que a Juventus olhasse para ele com outros olhos. Em Turim, o astro conquistou uma Coppa Italia (1983), 1 Champions League (1984/1985), 1 Copa Intercontinental (1985), 1 Supercopa Uefa (1984) e 2 Campeonatos Italianos (1984 e 1985). Pela seleção francesa, em 1984, o primeiro grande feito da história do futebol do país; o título da Eurocopa. A França era a anfitriã da competição, e com grande atuação de Platini, que foi o artilheiro daquela edição com 9 gols, venceu a Espanha na decisão por 2 a 0. 

A Copa do Mundo de 1986 seria o último compromisso oficial do astro com a camisa azul de seu país, sendo ainda determinante para a conquista do terceiro lugar. Claro, não era o que ele buscava após uma carreira brilhante representando a França dentro das quatro linhas, todavia, o pontapé inicial havia sido dado, e caberia a geração seguinte garantir as conquistas que faltavam ao país. Ao fim de seu contrato com a Juve em junho de 1987, Michel Platini encerrou a carreira com apenas 32 anos e em ótima forma física. Até o surgimento de Zinedine Zidane nos anos 90, o jogador revelado pelo pequeno Nancy era indiscutivelmente o maior francês de todos os tempos com a bola nos pés. Platini ainda se aventurou na carreira de treinador, classificando a seleção francesa para a Eurocopa de 1992. Após ser eliminado na primeira fase do torneio, foi demitido e jamais voltou a trabalhar como técnico. Em 2007 foi eleito presidente da UEFA, de onde foi retirado em 2016 pelo Tribunal Arbitral do Esporte por ter recebido 1,8 milhão de euros de propina, em 2011.

Michel Platini é o segundo maior artilheiro da história de sua seleção com 41 gols em 72 jogos. Se em números absolutos tem 10 gols a menos que Thierry Henry, em média por partida o craque está na frente: são 0,57 gols por jogo, contra 0,41 de Henry, que atuou 123 vezes e marcou 51 gols. 


Zinedine Zidane e o auge da carreira

Zidane começaria em 1996 uma trajetória avassaladora no futebol mundial, deixando o mundo boquiaberto com sua elegância e destreza na condução criativa do meio campo de Juventus e seleção francesa. Já em 96 venceu a Copa Intercontinental e a Supercopa Uefa ao lado de Del Piero e do compatriota Didier Deschamps, sendo os primeiros dos seis troféus conquistados com o manto do time italiano. Também em 1996 esteve pela primeira vez em uma grande competição com a seleção francesa, a Eurocopa disputada na Inglaterra e vencida pela Alemanha. Zidane foi muito importante para que a equipe chegasse às semifinais, onde o time acabou eliminado nos penaltis pela República Tcheca. Mas foi na temporada 1997-1998 que o craque teria o primeiro grande ano em termos de desempenho e reconhecimento, conquistando títulos individuais e coletivos dos mais relevantes da carreira. 

Para começar, o campeonato Italiano, vencido de maneira brilhante pela Juventus em disputa direta com a Internazionale de Ronaldo. O francês foi um dos melhores jogadores da competição, marcando 8 gols e dando 9 assistências. Ao fim do Calccio, Zidane se apresentaria à seleção da França para a Copa do Mundo a ser disputada em casa, o maior desafio do jogador até então. 

O mundo olhava para os les bleus como candidatos ao título pelo fato de jogarem em casa, mas era na seleção brasileira que as apostas mais pesadas eram feitas. Após um caminho cheio de riscos claros de eliminação, os franceses chegavam à final de um mundial pela primeira vez na história e 14 anos após o título da Eurocopa logrado pelo time de Platini em 84, também atuando em casa. O adversário na decisão seria o Brasil, atual campeão do mundo na ocasião. O confronto promoveria o reencontro entre Ronaldo e Zidane, que haviam disputado ponto a ponto o título do Calccio daquele ano com seus clubes. Como na liga nacional italiana, Zizou levaria a melhor ao marcar seus dois únicos gols na competição ainda na primeira etapa, abrindo 2 a 0 e praticamente definindo o jogo. 

O título mundial transformaria Zidane em uma lenda viva no país, valorizando seu passe em quase 190% e o levando a ser considerado o melhor jogador do mundo pela FIFA em 1998. Dois anos após a Copa do Mundo da França, ele ainda seria imprescindível  para o bicampeonato da seleção na Eurocopa da Bélgica/Holanda. Em 2000/2001, foi sua última temporada na Itália, deixando a Juve após 6 títulos, 239 jogos e 49 gols. O menino assustado que chegara do Bordeaux em 1996, encerrava sua passagem pela vecchia signora como o melhor jogador do planeta e sendo contratado pelo Real Madrid por um valor jamais praticado até então: 77 milhões de euros. 

Zidane teve uma passagem igualmente brilhante por Madrid, criando com o clube da capital espanhola um vínculo que se estenderia por toda a vida, mesmo no pós aposentadoria. Os títulos foram muitos, entre eles, o da Liga dos Campeões da Uefa (2001/2002) e o campeonato espanhol (2002/2003). Além disso, o francês voltaria a ser considerado o melhor do mundo em 2003. Zidane encerrou a carreira aos 33 anos, em 2006, após a final da Copa do Mundo da Alemanha, quando acabou expulso após cabecear o peito de Materazzi, zagueiro da Itália. A azzurra tornou-se tetracampeã do mundo no dia em que um dos maiores jogadores da história do futebol pendurou as chuteiras, emblemático.

Pela seleção, Zidane disputou 108 jogos e marcou 31 gols, sendo ainda o principal nome do elenco campeão do mundo e europeu em 1998 e 2000. Como treinador, faturou 3 Liga dos Campeões consecutivas pelo Real Madrid entre 2016 e 2018, feito extraordinário e inigualável na era moderna da competição. 

Nota final: 

A discussão pode e deve existir, faz parte da magia do futebol. Sempre existirão os saudosistas dos anos 80, que dirão que Platini foi excepcional em uma época onde o futebol era movido pelo talento e não pela tática. Por outro lado, haverão àqueles que enxergam em Zidane a glória máxima do futebol da França. Sem dúvidas, há quem acredite que Platini e Zidane não passam de um trecho da história dos azuis, pois Just Fontaine teria sido mais relevante e Thierry Henry mais decisivo... dúvidas causadas por um esporte que não conhece a lógica. A verdade é que cada um teve sua relevância e foi imprescindível em períodos distintos da trajetória de uma seleção que em 2018 conquistou seu segundo título mundial e tem lugar cativo na prateleira das mais importantes da história do futebol.

Os fatos estão na mesa e os argumentos bem colocados, agora, tirem suas próprias conclusões: Zidane ou Platini?

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