As diferenças entre Guardiola e Felipão
Guardiola completou recentemente
dez anos como treinador. Parece que foram cem.
O Barcelona, dirigido por ele, fez
uma marcante transformação no futebol.
Guardiola continua irrequieto,
inovador. É um treinador moderno, apaixonado pelo passado. Guardiola priorizou
a posse de bola, a troca de passes, as triangulações e o domínio da bola e do
jogo, como o Santos, na época de Pelé. Porém, com “glamour”.
Guardiola privilegiou a marcação
por pressão, para recuperar a bola perto do outro gol, como a seleção
holandesa, na Copa de 1974. Guardiola influenciou os goleiros de todo o mundo a
aprenderem a jogar com os pés.
Guardiola, principalmente, exigiu
de seus jogadores que, ao mesmo tempo, fossem eficientes e jogassem bom futebol,
agradável, para melhorar a qualidade do espetáculo. Sem utopia, nada é
possível.
Volto à realidade brasileira.
Bastou o Palmeiras, com Felipão, ficar cinco jogos sem sofrer gols e ganhar
dos fracos, Cerro Porteño, Vasco e Bahia, para a turma que acha que o 7 a 1 foi
um apagão e encher a bola do técnico. Imagine o que diriam se o
Palmeiras tivesse vencido, com Felipão, o Boca Juniors, em La Bombonera, como
aconteceu recentemente pela Libertadores, sob o comando de Roger Machado.
Felipão possui virtudes e merece
elogios por suas conquistas. Suas preferências técnicas e táticas, muitas
vezes dão certo, como os chutões, as bolas aéreas, a presença de volantes
somente marcadores e de centroavantes que só empurram a bola para o gol e,
principalmente, o jogo fatiado, truncado, sem trocar passes no meio-campo.
Ele e quase todos os outros
técnicos que dominaram o futebol brasileiro durante longo tempo, dividiram o
meio-campo entre os volantes que marcavam e os meias ofensivos que atacavam. A bola passava direto da defesa
para o ataque. Isso mediocrizou nosso futebol.
Como sou um homem dividido entre a
utopia e o pragmatismo, tento ver os dois lados, sem intolerância e
radicalismo, mas sem deixar de fazer minhas escolhas, de dizer o que penso.
Prefiro mil vezes as ideias de
Guardiola às de Felipão, e de tantos outros treinadores que só se preocupam com
o resultado, sem valorizar a qualidade do jogo.
Aqui no Brasil, é muito comum a
utilização de centroavantes estáticos, parados, muitas vezes, grandalhões.
Sempre jogam mal quando não fazem gols, possui, na carreira, a média de um gol
a cada dois ou três jogos. Convenhamos, isso pode até dar certo, no entanto,
prejudica a imagem do espetáculo. Desconfio que se escalassem um zagueiro alto,
forte, raçudo, de centroavante, em uma grande equipe, ele teria também uma
média de gols parecida, ainda mais se for Dedé, do Cruzeiro.
Futebol de hoje se tornou muito
mais que um esporte, uma modalidade, é um entretenimento. O poder de virar a
chave do nosso futebol pode estar nas mãos dos treinadores, por isso, sou
favorável à tendência de jovens no cargo, que no Brasil só se permitiu acontecer em
virtude da alternativa econômica.
Um brinde a esperança! Vou usar um
velho e “ultrapassado” ditado pra combinar com o futebol brasileiro: a
esperança é a ultima que morre.
Créditos da imagem: Jornal Estadão
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