Messi se mostrou um "pecho caliente?"
O futebol tem o poder de nos surpreender. O esporte, de um modo geral, costuma ter essa magia. Algumas cenas nos fazem refletir sobre como deve ser a verdadeira face de um personagem que, em certos momentos, nos parece sereno em sua plenitude. Quem me conhece um pouco sabe da minha admiração pelo argentino Lionel Messi, que a meu ver, é a maior figura da história do esporte mais popular do planeta. Contudo, sua "educação" foi posta em xeque na última sexta-feira durante o 'Super-clássico das Américas' disputado entre Brasil e Argentina, na Arábia Saudita.
Em um determinado momento, Tite reclamou de uma falta cometida pelo camisa '10' do Barcelona que, no entendimento do comandante, deveria ter recebido o cartão amarelo. Nesse momento, o capitão da 'albiceleste' percebeu sobre o quê o técnico discutia com a arbitragem e acenou com um gesto mandando o brasileiro se calar. Tite não gostou, revidou: "cala a boca você!". Obviamente, a mídia esportiva profissional - ou nem tão profissional assim - deu uma ênfase gigantesca ao fato, questionando até mesmo 'os modos' do melhor jogador do mundo. Thiago Silva também saiu em defesa do treinador, alegando que "a educação deve estar acima de tudo". A verdade é que tudo isso não passa de uma caça à views e likes, nada construtivo ou produtivo, nada que agregue ou informe relevantemente quem acompanha o futebol. Mas oferece àquilo que a maioria mais gosta e busca nos tempos atuais: treta!
Está claro que o ocorrido é algo rotineiro no futebol e que deve acontecer pelo menos umas dez vezes por partida, principalmente em jogos envolvendo rivais como Brasil e Argentina. Entretanto, quando o centro da polêmica é o melhor do mundo e que, de quebra, raramente costuma estar envolto em episódios desse tipo, a proporção dada é completamente diferente - para dizer o mínimo. Tudo dentro da total normalidade: um lado reclama, o outro não concorda com a reclamação e ambos discutem. Isso parece absurdo? Nem mesmo os protagonistas acham isso. Enquanto Messi ignorou o fato, Tite afirmou ser "coisa de jogo", e encerrou o assunto. Brasileiros inconformados demonstraram toda sua moralidade conveniente para as redes sociais, criticando fortemente o argentino em posts altamente criativos e com pouquíssimo brilhantismo gramatical. Assim como outros tantos concordaram com o craque, expressando isso com o mesmo nível de postagem. A famosa 'treta fabricada', um artifício muito comum no jornalismo atual.
Por acompanhar detalhadamente a carreira do ídolo do Barça, tive uma perspectiva diferente da referida discussão. Uma visão de quem sempre viu, em grande parte do caminho, Messi andar olhando para o chão ao vestir a camisa da seleção nacional. Visto por muitos argentinos como um jogador frio, quase uma condenação por jamais ter atuado por clubes do país, o astro tem tentado de todas as formas se encaixar como o líder de uma geração que precisa responder. A entrega é evidente, uma busca por afirmação que parece não ter fim. Ter ganho tudo com o Barcelona parece, aos 33 anos, não ser o bastante, e a reta final de uma carreira brilhante parece ter como grande obsessão a conquista de um título com a Argentina.
Triunfar com a camisa da seleção parece passar obrigatoriamente por 'esquentar o sangue', e Leo se mostra disposto a isso. Correndo muito até o último minuto, cometendo faltas com certa frequência e batendo boca com o adversário, a maior esperança dos hermanos nos últimos 10 anos parece propor a si mesmo um grande desafio para as próximas três ou quatro temporadas: deixar de ser um "pecho frío" e se tornar o "pecho caliente" que a sua nação sempre desejou que ele fora.
Não se trata de agradar um povo ou uma torcida, se trata de provar ao mundo feroz do esporte que ele tentou, que deu seu máximo, talvez se tornando alguém que não é pela simples gana de mostrar que se quiser, pode ser. O fracasso de toda uma organização foi oferecido a um só homem, que mesmo tendo encantado o planeta tantas vezes, se sente em dívida com parte de seus fãs.
Os capítulos finais da carreira de Lionel Messi nos reservam boas histórias, infinitas manchetes sensacionalistas e um batalhão de anedotas interessantíssimas a se contar aos netos no futuro. Começou!
Foto: globoesporte.com
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