Um inferno que já dura 18 anos: aonde o Vasco vai parar?
O quê aconteceu em São Januário nos últimos 18 anos? Após passar pelo período mais glorioso de sua história, o Vasco da Gama busca de maneira incessante o fundo de um poço que parece não ter fim. O título brasileiro conquistado sobre o São Caetano em janeiro de 2001, foi a última conquista de uma geração que encheu os vascaínos de alegria, mas que talvez tenha arruinado o clube financeiramente. De lá pra cá, muita decepção, tristeza e pouca coisa pra comemorar.
Em 2003, um título carioca conquistado pelos pés de Léo Lima e a cabeça de Souza, contra o Fluminense. Um estadual que demoraria alguns anos até reencontrar o caminho da colina. Em 2004, o primeiro susto em matéria de rebaixamento. Em um campeonato com 24 equipes, o melhor que o cruz-maltino conseguiu foi um 16° lugar, a quatro pontos da zona da degola. Sem contar o estadual, onde acabou sendo vice-campeão, perdendo a final para o Flamengo.
Nesse ponto as coisas começavam a ficar estranhas. O patrocínio máster já não era algo frequente na camisa do gigante. Não era comum também o clube passar muito tempo com o mesmo fornecedor de material esportivo. A crise era evidente e séria, negada apenas pela arrogância de Eurico Miranda.
Os anos seguintes não foram diferentes, com exceção de 2006, onde o time ficou a um gol, na última rodada contra o Figueirense, pra conquistar uma vaga na Libertadores de 2007, e chegou a decisão da Copa do Brasil, onde mais uma vez seria superado pelo arquirrival Flamengo. Aquele time tinha como marca a superação: superava a falta de condições estruturais, os atrasos frequentes de salários e as trocas constantes de treinador - nada muito diferente do que acontece hoje. Se fossemos contar quantos treinadores passaram pelo Vasco em 18 anos, precisaríamos de três artigos para encaixá-los e não esquecer ninguém.
O ano de 2007 foi mais uma vez uma penúria. O Vasco seria eliminado na semifinais do campeonato carioca, e o décimo lugar do brasileirão era o melhor que um elenco limitado poderia entregar. Mas o pior ainda estava por vir. 2008, o ano do primeiro rebaixamento, o início da trilogia do abismo.
Aquele elenco contava com algumas peças que remetiam a um passado recente e cheio de glórias; Odvan, Pedrinho e Edmundo. Após um ano cheio de altos e baixos, trocas de treinador e presidente, o Vasco da Gama conhecia o que naquela altura, era o pior dos pesadelos. No dia 7 de dezembro de 2008, em derrota em casa para o Vitória por 2 a 0, o gigante da colina era rebaixado pela primeira vez em sua rica e gloriosa história. Era hora de recomeçar, juntar os cacos, fazer o que fizera o Corinthians naquele mesmo ano.
E tudo se encaminhava pra isso. Com um dos maiores ídolos do clube na presidência, o Vasco parecia pavimentar a estrada da reconstrução. Sem fazer loucuras, Roberto Dinamite construiu um elenco bastante competitivo para a disputa da série B e, de quebra, ainda alcançara boas campanhas na Copa do Brasil e campeonato carioca. Daquele time saíram bons nomes, como Dedé, Fagner, Allan (hoje no Napoli), Rômulo (hoje no Flamengo) e a experiência de Carlos Alberto, que se reencontrou no cruz-maltino. Com isso, a volta à primeira divisão foi natural e muito esperada. O ano seguinte, 2010, trazia muita expectativa e enchia corações de esperança.
A repatriação de Felipe Maestro, as contratações de Dodô, que viera de suspensão por doping, e Zé Roberto, campeão brasileiro pelo Flamengo em 2009; faziam do ano de 2010 uma festa mesmo antes de começar. Os gritos de "o campeão voltou" ecoavam por onde o Vasco passava, a euforia da torcida era imensa. Mas, outra vez, às coisas não foram assim tão simples.
Um inicio perturbador transformou um brasileirão pré-copa do mundo, em um verdadeiro inferno. No final, a torcida era para que o mundial começasse logo, para que a agonia parasse, e os ponteiros pudessem ser acertados. Foram, de maneira apequenada e parcial, mas foram. O Vasco se manteve na série A, e 2011 viria para acalmar corações.
O ano de 2011 foi o último em que o torcedor vascaíno foi feliz. O título da copa do Brasil, o retorno de Juninho Pernambucano à colina, e os bons resultados na copa sul-americana e campeonato brasileiro, traziam a sensação de que os bons tempos estavam de volta. Um ano, que por maior que o Vasco seja, se tornou atípico para o clube.
O investimento feito no elenco em 2011, traria problemas sérios em 2012. Os atrasos de salário voltariam com força total. Jogadores importantes deixaram o clube, a força se perdeu. Um ano em que o Vasco chegou às quartas de finais da libertadores da América, mas não foi capaz de chegar forte na reta final do brasileirão. Nada deu certo, e mais uma vez a torcida estava sem nada.
A debandada de jogadores foi assustadora em 2013, e quem parecia estar voltando ao seu lugar, começava a encarar a sua dura realidade financeira, escondida por loucuras salariais em quatro desastrosos anos de administração Roberto Dinamite. Rebaixamento em 2013, volta via campanha irregular na série B em 2014. Título carioca em 2015, novo rebaixamento no campeonato brasileiro nesse mesmo ano. TRÊS REBAIXAMENTOS em apenas oito anos. Uma tragédia que ainda não foi compreendida por quem comanda esse clube de história tão bela.
"(...) Vasco da Gama tua fama assim se fez..." assim diz um dos mais belos hinos do futebol brasileiro. Mas não foi assim, de maneira tão pequena, que a história do Vasco se fez.
Fundado em 1898, o Clube de Regatas Vasco da Gama tem uma das mais belas e inspiradoras histórias, não só do nosso futebol, mas do nosso esporte. Clube fundado por remadores, pais de família, que simplesmente amavam o que faziam. O estádio de São Januário foi construido com o suor dos seus sócios e torcedores. O Vasco foi o primeiro clube do Brasil a aceitar negros em seu elenco, o primeiro clube do Brasil a se tornar campeão sul-americano invicto, em 1948. Fora tantas e tantas outras belas histórias. O que estão fazendo com essa instituição? Aonde o Vasco vai parar?
Outros clubes já passaram por momentos complicados. O Corinthians, rebaixado em 2007, que depois disso conquistou tudo o que era possível. O Flamengo, que se afundou em uma dívida gigantesca no fim dos anos 90, hoje é o clube que mais arrecada no país. O Palmeiras, rebaixado duas vezes nesses últimos dezoito anos, hoje volta a ser o grande que sempre foi. Vários, quase todos na verdade, tiveram seus momentos de grave instabilidade. Mas na maioria dos casos esses momentos de dificuldade foram superados com políticas sérias, visando uma reeducação financeira. Porém, no Vasco isso parece estar longe de ser feito.
Há poucas horas o juiz Lucas Furiati Camargo, da 44ª vara do trabalho do Rio Janeiro, rescindiu por meio de medida judicial o contrato do meia Wagner, por atrasos no pagamento do FGTS. A situação é tão preocupante, que o clube teme outras baixas. E claro, no fim, o problema é o treinador. Foram três só em 2018 - por enquanto. Até quando?
O caminho da reconstrução do Vasco será longo, principalmente porquê nem sequer começou. O problema é político, estrutural e desportivo. O Vasco da Gama está quebrado nesses três pilares que regem o bom funcionamento de um clube de futebol. A divida que em 2001 nem chegava aos 100 milhões de reais, em 2018 deve alcançar os 650 milhões. Um aumento de mais de 500%. E pra piorar, o faturamento do clube nem de longe acompanhou esse crescimento da dívida. O Vasco faturou em 2001 cerca de 68,7 milhões de reais, e em 2017, quase 122 milhões. Como seria possível uma instituição se manter tendo sua divida aumentada em mais de 500% em 18 anos, enquanto o faturamento não chegou aos 78%, mesmo com a inflação natural dos anos? É só mais um exemplo do perigo que o Vasco da Gama corre enquanto sua gestão não for profissionalizada. E esse perigo se chama falência.
O que o clube precisa fazer todos nós sabemos, profissionalizar a gestão é imprescindível. Gestores de empresas, administradores, pessoas que temam por seus empregos devem comandar o Vasco. São Januário precisa de reformas, um monumento histórico do nosso futebol está em ruínas, enquanto a briga fica entre a família Miranda e a oposição. A mais de 40 anos que os problemas são os mesmos no alto da colina, mas essa farra precisa acabar, antes que o Vasco deixe de respirar por aparelhos, e pare de vez de respirar.
Créditos das imagens: netvasco.com

E tudo se encaminhava pra isso. Com um dos maiores ídolos do clube na presidência, o Vasco parecia pavimentar a estrada da reconstrução. Sem fazer loucuras, Roberto Dinamite construiu um elenco bastante competitivo para a disputa da série B e, de quebra, ainda alcançara boas campanhas na Copa do Brasil e campeonato carioca. Daquele time saíram bons nomes, como Dedé, Fagner, Allan (hoje no Napoli), Rômulo (hoje no Flamengo) e a experiência de Carlos Alberto, que se reencontrou no cruz-maltino. Com isso, a volta à primeira divisão foi natural e muito esperada. O ano seguinte, 2010, trazia muita expectativa e enchia corações de esperança.
A repatriação de Felipe Maestro, as contratações de Dodô, que viera de suspensão por doping, e Zé Roberto, campeão brasileiro pelo Flamengo em 2009; faziam do ano de 2010 uma festa mesmo antes de começar. Os gritos de "o campeão voltou" ecoavam por onde o Vasco passava, a euforia da torcida era imensa. Mas, outra vez, às coisas não foram assim tão simples.
Um inicio perturbador transformou um brasileirão pré-copa do mundo, em um verdadeiro inferno. No final, a torcida era para que o mundial começasse logo, para que a agonia parasse, e os ponteiros pudessem ser acertados. Foram, de maneira apequenada e parcial, mas foram. O Vasco se manteve na série A, e 2011 viria para acalmar corações.
O ano de 2011 foi o último em que o torcedor vascaíno foi feliz. O título da copa do Brasil, o retorno de Juninho Pernambucano à colina, e os bons resultados na copa sul-americana e campeonato brasileiro, traziam a sensação de que os bons tempos estavam de volta. Um ano, que por maior que o Vasco seja, se tornou atípico para o clube.

A debandada de jogadores foi assustadora em 2013, e quem parecia estar voltando ao seu lugar, começava a encarar a sua dura realidade financeira, escondida por loucuras salariais em quatro desastrosos anos de administração Roberto Dinamite. Rebaixamento em 2013, volta via campanha irregular na série B em 2014. Título carioca em 2015, novo rebaixamento no campeonato brasileiro nesse mesmo ano. TRÊS REBAIXAMENTOS em apenas oito anos. Uma tragédia que ainda não foi compreendida por quem comanda esse clube de história tão bela.
"(...) Vasco da Gama tua fama assim se fez..." assim diz um dos mais belos hinos do futebol brasileiro. Mas não foi assim, de maneira tão pequena, que a história do Vasco se fez.
Fundado em 1898, o Clube de Regatas Vasco da Gama tem uma das mais belas e inspiradoras histórias, não só do nosso futebol, mas do nosso esporte. Clube fundado por remadores, pais de família, que simplesmente amavam o que faziam. O estádio de São Januário foi construido com o suor dos seus sócios e torcedores. O Vasco foi o primeiro clube do Brasil a aceitar negros em seu elenco, o primeiro clube do Brasil a se tornar campeão sul-americano invicto, em 1948. Fora tantas e tantas outras belas histórias. O que estão fazendo com essa instituição? Aonde o Vasco vai parar?
Outros clubes já passaram por momentos complicados. O Corinthians, rebaixado em 2007, que depois disso conquistou tudo o que era possível. O Flamengo, que se afundou em uma dívida gigantesca no fim dos anos 90, hoje é o clube que mais arrecada no país. O Palmeiras, rebaixado duas vezes nesses últimos dezoito anos, hoje volta a ser o grande que sempre foi. Vários, quase todos na verdade, tiveram seus momentos de grave instabilidade. Mas na maioria dos casos esses momentos de dificuldade foram superados com políticas sérias, visando uma reeducação financeira. Porém, no Vasco isso parece estar longe de ser feito.
Há poucas horas o juiz Lucas Furiati Camargo, da 44ª vara do trabalho do Rio Janeiro, rescindiu por meio de medida judicial o contrato do meia Wagner, por atrasos no pagamento do FGTS. A situação é tão preocupante, que o clube teme outras baixas. E claro, no fim, o problema é o treinador. Foram três só em 2018 - por enquanto. Até quando?
O caminho da reconstrução do Vasco será longo, principalmente porquê nem sequer começou. O problema é político, estrutural e desportivo. O Vasco da Gama está quebrado nesses três pilares que regem o bom funcionamento de um clube de futebol. A divida que em 2001 nem chegava aos 100 milhões de reais, em 2018 deve alcançar os 650 milhões. Um aumento de mais de 500%. E pra piorar, o faturamento do clube nem de longe acompanhou esse crescimento da dívida. O Vasco faturou em 2001 cerca de 68,7 milhões de reais, e em 2017, quase 122 milhões. Como seria possível uma instituição se manter tendo sua divida aumentada em mais de 500% em 18 anos, enquanto o faturamento não chegou aos 78%, mesmo com a inflação natural dos anos? É só mais um exemplo do perigo que o Vasco da Gama corre enquanto sua gestão não for profissionalizada. E esse perigo se chama falência.
O que o clube precisa fazer todos nós sabemos, profissionalizar a gestão é imprescindível. Gestores de empresas, administradores, pessoas que temam por seus empregos devem comandar o Vasco. São Januário precisa de reformas, um monumento histórico do nosso futebol está em ruínas, enquanto a briga fica entre a família Miranda e a oposição. A mais de 40 anos que os problemas são os mesmos no alto da colina, mas essa farra precisa acabar, antes que o Vasco deixe de respirar por aparelhos, e pare de vez de respirar.
Créditos das imagens: netvasco.com
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