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Amizade x Guerra Civil: Uma bandeira que separa uma Seleção





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- Balcãs: Talento esportivo amaldiçoado?

A Iugoslávia foi construída com várias etnias que foram inimigas durante séculos. Na segunda metade do século XX, sob a proteção do Comunismo Soviético, viveu tempos de crescimento econômico e fortalecimento esportivo. Após a morte de (Josip Broz) Tito em 1980, a economia entrou em crise com o desemprego, inflação e dívida externa fazendo parte do cotidiano do povo iugoslavo.

Em 25/06/1991, depois de um plebiscito, os parlamentos da Eslovênia e da Croácia declaram a independência. Slobodan Milosevic, eleito presidente da Sérvia em 1989, não aprovou a autonomia das duas repúblicas. Estourou, então, a guerra civil.

Anos após a guerra civil sangrenta, a região apresentava os seguintes estados soberanos: Eslovênia, Croácia, Iugoslávia (Sérvia e Montenegro); Bósnia-Herzegovina e Macedônia. Posteriormente, em 2006, Sérvia e Montenegro se separaram, acabando finalmente com a República da Iugoslávia e transformando aquele antigo país em sete novas repúblicas.

Nos últimos 30 dias, ouvimos falar sobre tudo isso, por conta da Copa do Mundo da Rússia. Histórias dos croatas Modric, Perisic, Rakitic e dos sérvios Kolarov, Ivanovic, Mitrovic se espalharam pelo Mundo.

Mas o talento dos atletas da antiga Iugoslávia não se resume ou se resumia apenas ao Futebol.

Os esportistas iugoslavos de destacavam, em especial, a Seleção Iugoslava de Basquete, que figurava sempre entre os primeiros colocados nos Mundiais (primeiro em 70, 78, 90, 98 e 2002; segundo em 63, 67 e 74 e terceiro em 82 e 86) e Jogos Olímpicos (primeiro em 80; segundo em 68, 76, 88 e 96 e terceiro em 84). Após a separação, Sérvia, Croácia e Eslovênia mantiveram a excelência do basquete no cenário mundial.

Dentre seus principais atletas, dois se destacavam pelo talento, pela amizade e por terem liderados a Seleção durante as conquistas dos anos 80 e 90, antes do início dos processos separatistas: Drazen Petrovic e Vlade Divac.
  
- Petrovic x Divac: "Once Brothers"

Petrovic (22/10/1964) nasceu na antiga Iugoslávia e defendeu as cores da Croácia após sua independência. Do alto de seus 1,96 m, era armador e exímio arremessador de bolas de três pontos. Pela Iugoslávia, medalhista olímpico de bronze (1984) e prata (1988); bronze (1986) e ouro (1990) nos Mundiais; bronze (1987) e Ouro (1989) no Eurobasket; pela Croácia, prata olímpico em 1992. Jogou no Real Madrid e, posteriormente, um dos primeiros europeus a jogar na NBA pelo Portland Trail Blazers e New Jersey Nets.

Divac (03/02/1968) também nascido na antiga Iugoslávia, porém sérvio. Com 2,16 m, era pivô e também foi um dos primeiros europeus a chegar na NBA em 1989 pelo Los Angeles Lakers. Jogou ainda pelo Charlotte Hornets e Sacramento Kings antes de se aposentar.  Pela Iugoslávia, medalhista olímpico de prata (1988); bronze (1986) e ouro (1990) nos Mundiais; bronze (1987) e Ouro (1989) no Eurobasket; pela Sérvia e Montenegro, prata olímpico em 1996; ouro no Mundial de 2002; e ouro (1995) e bronze (1999) no Eurobasket.

Dois talentos, duas carreiras vitoriosas. Embora draftados em períodos diferentes, Petrovic em 1986 e Divac em 1989, chegaram à NBA juntos (1989).

Uma amizade separada pelas diferenças históricas dos Balcãs.

O fato que os separou ocorreu num momento de comemoração do título no Mundial de 1990 na Argentina. Um torcedor invadiu a quadra para comemorar com a bandeira da Croácia. Divac tomou a bandeira do torcedor, alegando que o título era da Iugoslávia. Disse ainda que faria o mesmo se o torcedor estivesse com a bandeira da Servia. Esse gesto foi utilizado como força motora dos croatas na luta por sua independência. Divac se tornou o vilão dos croatas e herói sérvio. A relação com Petrovic nunca mais foi a mesma.

Esta história foi retratada no documentário “Once Brothers”, produzido pela ESPN e NBA. Aqui no Brasil está disponível no “Watch ESPN”. Não se trata apenas da discussão esportiva, mas sim de verdadeiro drama. Um tema para aulas de Filosofia, Sociologia, História e Geografia. Uma história sem bandidos ou mocinhos, na qual dois cidadãos da antiga Iugoslávia que não se falavam durante as partidas entre seus times na NBA em virtude de suas etnias.

Narrado por Divac, o documentário nos mostra as conquistas da Seleção Iugoslava, o talento de jogadores com Tony Kukoc, Dino Radja, Igor Paspalj e nossos dois personagens principais, mas também como os países (Iugoslávia e Croácia) se tornaram inimigos mortais.

Brigados, Divac viu o (antigo) amigo falecer após um acidente automobilístico em junho de 1993 e esta fatalidade manteve eterno o afastamento dos dois e a impossibilidade de reconciliação. Palavras de Vlade Divac no documentário: “Demoramos anos para criar uma amizade e a perdemos em segundos”.

O final do documentário é triste e emocionante, mas não serei eu a contá-lo aqui. Registro apenas que as feridas daquele incidente em 1990 não devem ter cicatrizado até hoje.

- NBA

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Nosso amigo Matheus Zechinatto nos contou um pouco da história de Petrovic nesta semana em seu artigo Drazen: A lenda silenciosa.


  • Divac, por seu lado, iniciou seus trabalhos na NBA amparados por Magic Johnson e Kareem Abdul-Jabbar. Na temporada 1989/1990 foi escolhido para o "Time dos Novatos" no All Star Weekend. É o quarto maior jogador dos Lakers em bloqueios (830).
Após anos de Lakers (1989-1996), foi negociado com os Hornets, transação esta que acabou levando Kobe Bryant a Los Angeles no draft de 1996. Jogou ainda seis temporadas no Sacramento Kings (1998-2004), frequentando os “playoffs” e com chance de título, o que lhe rendeu a aposentadoria da camisa 21 em 2009. De volta aos Lakers (2004-2005), encerrou vitoriosa carreira na NBA.

Apesar da estatura, ele possuía boa mobilidade, bom controle de bola e era bom arremessador a distância, que o tornaram um pivô diferenciado.

Divac foi também o primeiro nascido e treinado fora dos Estados Unidos a jogar mais de 1.000 jogos na NBA. Em 20 de Agosto de 2010, foi introduzido ao FIBA Hall of Fame em reconhecimento à sua contribuição ao basquete mundial.

- Futuro, Presente, Passado

Hoje, Divac se destaca pelo trabalho humanitário e dirigente esportivo. Petrovic é lembrado por seu talento nas quadras de basquete.

 

Do mesmo modo que perguntamos como seria sido o passado se Tancredo, Senna ou Dener não tivessem morrido, construindo seus presentes, transformando nossos futuros; devemos nos perguntar também o que teria sido da NBA, dos Nets e da Croácia, se Petrovic não tivesse falecido; onde teria chegado a Iugoslávia em Barcelona-1992 se não houvesse se desmembrado; mas principalmente onde esta amizade poderia ter chegado, caso a Guerra Civil não tivesse separado Divac e Petrovic:
 
- Teriam jogados juntos um All-Star Game?
- Teriam jogados juntos, conquistando o título da NBA?
- Juntos, poderiam ter vencido o Dream Team-92 e os Bulls de Jordan?
- Teriam reatado amizade, lutando por seus países com desenvolvimento e justiça social?
 
Somente nossas imaginações poderão responder tais perguntas.

  
Vídeos Interessantes:
ESPN 30 For 30 - Once BrothersDrazen Petrovic vs Michael Jordan 
Highlights - Drazen Petrovic
Highlights - Vlade Divac
 
  
Links Interessantes:
https://balanacesta.blogosfera.uol.com.br/2016/08/19/dez-minutos-com-vlade-divac-craque-do-basquete-mundial/ 
http://basketball.realgm.com/player/Vlade-Divac/Summary/1109 
http://basketball.realgm.com/player/Drazen-Petrovic/Summary/2519


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