O maior da nação: Messi ou Maradona?
Enquanto a história está sendo escrita é sempre difícil tirar conclusões efetivas sobre a grandeza de personalidades ou acontecimentos, afinal, tudo muda do dia para a noite. O futebol argentino vive essa indefinição, tendo de um lado uma lenda consolidada e de outro um trabalho em andamento.
Diego Maradona é quase uma religião para a maioria dos hermanos, e não é atoa, não esqueçamos que dom Armando marcou cinco gols no bicampeonato mundial da Argentina em 1986, quatro deles entre às quartas e semifinais, sendo imprescindível para o feito. Por outro lado, Messi é a personificação de tudo o que um torcedor espera de um jogador: decisivo, leal e extraordinário. No entando, o camisa '10' do Barça não recebe dos compatriotas àquele reconhecimento que qualquer um o daria, muitos inclusive sequer o consideram argentino. Os motivos são varios, entre eles, jamais ter atuado no futebol do país e nunca ter conquistado um título com a seleção principal.
Claro, nada do que se diga diminui o tamanho de nenhum deles, figuras do mais alto gabarito do esporte mais amado do mundo. Mas existem visões diferentes relacionadas a esses homens, que vão além de números, títulos individuais e coletivos e gols marcados: a idolatria.
Lionel Messi saiu da Argentina, Rosário, aos 13 anos rumo à Catalunha. Para traz deixou as recusas de Newell´s Old Boys, Boca Junior e River Plate, times que atestaram seu talento e não se dispuseram a investir em um menino com vários problemas de evolução física e que necessitaria de tratamentos caros para continuar jogando. Fica claro que não ter jogado profissionalmente no país natal nada tem a ver com a vontade do atleta, foram as circunstâncias. Maradona, por sua vez, ingressou no Argentinos Junior aos 9 anos, fazendo carreira desde cedo na Argentina. Pela seleção, Diego foi mais decisivo, nem por isso mais relevante. Messi chegou a duas finais de Copa América e uma final de Copa do Mundo, as linhas tênues que o separaram do lugar mais alto do coração albiceleste. Um pequeno exercício de imaginação nos leva a um cenário totalmente diferente. Caso a Argentina de Messi tivesse conquistado uma das Copas América perdidas para o Chile e também vencido o mundial de 2014 contra a Alemanha, e somássemos isso ao título das Olimpíadas 2008 e ao fato de Messi ser o maior artilheiro da seleção com 70 gols em 138 jogos (média de 0,57), seria impossível não confirmar o seu posto de maior jogador da história do futebol argentino. Mas, como sabemos, nada disso aconteceu, e seus recordes pessoais e coletivos conquistados em 20 anos de Barcelona nada valem para os torcedores da seleção.
Maradona foi o astro da Copa de 1986, sendo fundamental nos momentos mais importantes da competição, marcando dois gols nas quartas e nas semifinais - como supracitado. Além disso, é ídolo do Boca Juniors, maior clube do país. Tem um jeito de ser tipicamente argentino, o chamado pecho caliente, àquele que faz qualquer coisa para levar seu time ao triunfo - inclusive se dopar (Copa 1994) e fazer gol de mão (Copa 1986). Tudo isso faz parte do imaginário do torcedor hermano, que tem em Maradona a idealização do que é preciso para ser campeão. Obviamente, não podemos esquecer sua genialidade, algo raro até para os dias de hoje e que o permitiu ser comparado a Pelé até por brasileiros.
Na visão nacionalista, Messi nunca se sentiu parte da seleção, alguns acreditam até que ele deveria ter aceito, em 2005, o convite para jogar pela Espanha. Se no Barça o craque é sem dúvidas o maior de todos os tempos, na seleção é visto como uma decepção, alguém que não apareceu como deveria. Não se pode condenar esse pensamento, afinal, quando a albiceleste mais precisou ele não foi decisivo como no Barcelona. Na final da Copa América 2015 perdeu a cobrança na disputa de penalti, saiu chorando e afirmando que não jogaria mais por seu país. Na Copa do Mundo do Brasil em 2014, teve a bola do tri-campeonato no pé bom, o esquerdo, exagerando no capricho e perdendo a grande oportunidade da partida até então. O peso disso é gigantesco, faz com que o apaixonado torcedor argentino visualize em Messi momentos tristes, ao contrário de Maradona.
Está claro que esses dois monstros se encontram em prateleiras parecidas, porém com suas diferenças. Essa é uma opinião pessoal, como eu vejo e como faria tais reconhecimentos. Chega a ser estranho como cada questão deve ser posta no seu lugar, ainda que pareça heresia. Existe a possibilidade de um atleta ser o maior da história do futebol mundial, mas não ser o maior de seu país? Se tem como eu não sei, mas temos aqui um caso no qual o faria dessa forma. Maradona teve episódios extremamente lamentáveis em sua trajetória como atleta, envergonhando sua família e deixando passar oportunidades excelentes. No entanto, o peso de seus feitos com a camisa da seleção da Argentina o transformam no maior jogador da história do país, sem dúvidas. Lionel Messi ainda pode reverter esse jogo, claro, um título mundial mudaria tudo - na minha visão. Teria uma relevância absurda, tendo em vista que os hermanos não vencem nenhuma competição oficial há quase 30 anos. Lionel Messi, esquecendo a discussão doméstica, é na minha opinião o maior do mundo em todos os tempos, por tudo o que fez em 13 anos de carreira e por tudo que ainda é capaz de fazer aos 33 anos de idade. À essa altura, Maradona fazia uma temporada horrível pelo Newell´s em 1994, disputando cinco partidas e não marcando sequer um gol.
Os números, o profissionalismo e a resiliência colocam Lionel Messi no topo do mundo, mas não são capazes de coloca-lo no topo do futebol argentino. Maradona é, até agora, a maior figura dos nossos vizinhos quando o assunto é futebol, uma lenda forjada à base de magia, loucura e paixão além do juízo. É assim que eles gostam, é assim que deve ser para que o imaginário seja alimentado.
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