Treinadores não são deuses, só os comentaristas não sabem ou fingem não saber!
Existe em todo o mundo, ainda mais no Brasil,
um fascínio pelos treinadores, que cresceu nos últimos tempos por conta da
evolução científica e da valorização da estratégia de jogo. Os treinadores
teriam o segredo das vitórias.
Se estas não ocorrem, há outros com mais
conhecimento e assim sucessivamente. Não tem fim.
Essa ilusão não diminui a importância dos
treinadores. São eles — ou deveriam ser — os responsáveis pela formação dos
elencos, pelo planejamento técnico das competições, pelos treinamentos,
estratégias, escalações, substituições e gestão do grupo. É demais para um só
profissional, mesmo ajudado por vários especialistas nas comissões técnicas. As
decisões de campo são sempre dos treinadores.
Há dezenas de outros fatores envolvidos nas
atuações e nos resultados das equipes, como o acaso, os problemas físicos,
emocionais e disciplinares e, principalmente, a qualidade dos
jogadores.
As partidas entre times de nível técnico
parecidos, como Cruzeiro e Palmeiras, Corinthians e Flamengo, são
decididas mais por detalhes e pelas escolhas dos jogadores no momento do lance,
do que pelo planejamento e conduta dos treinadores.
Em uma fração de segundos, o garoto Pedrinho
definiu a partida e o futuro de Corinthians e Flamengo. Por dez centímetros, o
chute de Pará, no fim do jogo, teria entrado e levado à disputa por pênaltis.
Culpa do Barbieri? Claro que não!
Outra razão da troca frequente no comando das
equipes é a prática habitual de analisar as partidas a partir da conduta dos técnicos.
Mais que isso, os comentaristas são as pessoas que costumam iniciar as
discussões sobre a troca de treinadores.
Alguns treinadores cometem erros seguidos,
importantes, e devem ser substituídos. O difícil é definir, com certeza, se a
falha é realmente deles. Além disso, não há nenhuma certeza se o time não
melhoraria se o técnico não fosse demitido.
Todos os grandes treinadores do mundo tiveram
períodos próximos de sucesso e de fracasso. Isso não significa que foram
excepcionais nas vitórias e péssimos nas derrotas. Há dezenas de fatores
envolvidos nos resultados. Talvez seja uma ilusão acharmos que os técnicos
ganham ou perdem por uma tacada de mestre. Diante
de tantas informações e opções, qualquer treinador pode ficar indeciso e tomar
decisões erradas. Eles não são super-homens, nem magos.
Sempre fico triste com
demissões de técnicos novos e promissores, como aconteceu com Barbieri. Tenho a
impressão de que estamos retrocedendo, resgatando técnicos medalhões como
Felipão.
Nós Brasileiros, sabemos como ninguém criticar
treinadores de casa e de elogiar os da Europa. É o complexo de vira-lata que habita
dentro de todos nós.
Créditos da imagem: globoesporte.com / Eduardo Moura
Nenhum comentário