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Quando a matemática deixa de ser exata, e 24 é menor do que 23.





O que se viu na noite do dia 13 de abril de 2016 no Staples Center em Los Angeles, CA, estará sem sombra de dúvida nas paginas futuras da história do esporte. Quando a temporada regular de 2018/19 se iniciar, será a segunda, após longos e incríveis 20 anos, que não teremos em quadra Kobe Bryant. Aquele que, com total certeza, já está presente entre a constelação de atletas que já passaram pelas quadras da National Basketball Association, para os mais íntimos, a NBA.

Em sua partida de despedida, o camisa 24 dos Lakers presenteou o publico presente na arena com aquilo que fez de melhor durante as duas décadas em que atuou na liga, sempre pela mesma equipe. Comandando uma virada épica contra o Utah Jazz, Kobe marcou incríveis 60 pontos. Foi como se mesmo em sua triste hora de dizer adeus, quisesse deixar eternizado na memoria dos torcedores a materialização do seu álter ego, Black Mamba - como se fosse necessário.

Mas o término da carreira de Kobe me gerou uma reflexão, a respeito de uma brincadeira que eu fazia no início da adolescência, mais para irritar meu irmão do que necessariamente defender de fato a ideia. Eu costumava arrumar discussão atrás de discussão, ao dizer que Kobe Bryant era melhor do que Michael Jordan. Se não me falha a memória, acredito que chegamos as vias de fato por causa disso uma vez.

Enfim.

É essa a questão que quero por em pauta: do alto de sua grandeza, com 5 títulos na carreira; duas vezes eleito MVP das finais; 18 seleções para o All Star Game com quatro MVPs da celebração; 11 vezes All Star First Time; 9 vezes All-Defencive First Time; 2 ouros olímpicos e um ouro em mundial da FIBA, sem contar a terceira colocação na lista dos maiores pontuadores da história da NBA, à frente do próprio Jordan. Com um currículo destes, por que, diferente de LeBron James, Kobe está longe dos debates sobre ser o "G.O.A.T."? Não sendo o favorito nem mesmo entre alguns torcedores dos Lakers quando se põe em questão quem foi o maior atleta a usar o Purple and Gold. Principalmente, caso se cumpram todas as expectativas depositadas em cima de LeBron, e o mesmo venha a trazer um anel para Los Angeles, o primeiro título após os cinco da era Bryant.

Kobe Bean Bryant, nasceu na Filadélfia em 23 de agosto de 1978. Filho do também jogador dos 76ers, Joe Bryant, Kobe foi selecionado pelo Charlotte Hornets no Draft de 1996, aos 17 anos de idade, sendo trocado em seguida para o time ao qual havia batido o martelo como o único pelo qual atuaria, o Los Angeles Lakers. Assim como LeBron James, Bryant foi uma das poucas exceções, de atletas que ingressaram na NBA sem ter tido uma carreira universitária, sendo draftados direto do High School. Se tornou então, na sua temporada de estreia, o jogador mais novo a pisar em uma quadra da NBA, ainda que saindo do banco de reservas, o que se manteve também durante a sua segunda temporada. Chegando inclusive, a quase ganhar o prêmio de sexto homem, ficando em segundo lugar nas votações.

Claro que a questão da idade e a falta da base universitária fizeram com que ele já ficasse atrás na largada. O peso de Kobe para a sua equipe no inicio da carreia também deve ser levado em consideração, enquanto o até então camisa 8 teve médias de 7,6 pontos por jogo, Jordan já tinha a titularidade e uma média incrível de 28,2 pontos, com 51,5% de aproveitamento. Tais números levaram Jordan ao All Star Game já em sua primeira temporada. LeBron por sua vez, não sentiu este peso da juventude, tal qual Kobe sentiu, e junto de Michael Jordan e Oscar Robertson, se tornou apenas o terceiro jogador da história da liga a alcançar as medias de 20 pontos, 5 rebotes e 5 assistências já em sua temporada de estreia.

Tal qual Michael, Kobe só veio a se tornar campeão após a chegada do técnico Hall Of Fame, Phil Jckson. LeBron James, por sua vez, nunca precisou de um grande técnico para lhe dizer como jogar, dizem até, que isso seria um demérito contra ele na disputa pela coroa de maior de todos os tempos, uma vez que precisou migrar para um time mais forte para se tornar campeão. Mas, o basquete é um esporte coletivo, e uma andorinha sozinha não faz verão, como diz o ditado.

Porém, quando o assunto é o desempenho individual reconhecido, ambos voltam a ter vantagem contra o Black Mamba. Em todos os seus títulos, os camisas 23 foram eleitos os MVPs das finais que venceram; 6 para Jordan e 3 para The King. Kobe venceu "apenas" duas vezes, em cinco finais conquistadas.

Em temporada regular também existe uma grande vantagem em desfavor do Black Mamba, enquanto ele levou o prêmio de MVP em apenas uma ocasião, em 2008, Jordan foi eleito o melhor jogador da temporada em 5 ocasiões. Já LeBron James, tem apenas um prêmio a menos do que seu principal concorrente ao topo da lista.

Talvez um dos fatores favoráveis a Kobe, seja o fato de que enquanto Jordan e LeBron tinham apenas um titulo cada um, aos 28 anos de idade, Bryant já tinha um tri-campeonato na bagagem. Ainda que dos dois MVPs de finais dele não tenham sido durante a conquista desses três, vencidos por aquele que talvez tenha sido seu maior adversário rumo ao favoritismo em Los Angeles, Shaquille O'Neal. E isso sem contar ainda os três MVPs de temporada regular de James, e os dois que Michael já haviam conquistado com a mesma idade.

As diferencias não ficam presentes apenas em números, Jordan e LeBron sempre chamaram a atenção pela sua particularidade de jogo. Ambos são difíceis de se comparar com base em seus estilos, até mesmo entre os dois, o que aumenta ainda mais a discussão; uma vez que para muitos, em um duelo mano a mano, LeBron obteria uma larga vantagem a seu favor. Ao se levar em consideração sua incrível mobilidade para o seu enorme porte físico, lhe permitindo, diferente de Michel, jogar com excelência em praticamente todas as cinco posições do jogo. Kobe, por sua vez, na visão dos especialistas e também na minha humilde visão, ainda que fenomenal, nunca passou de uma versão mais nova do camisa 23 de Chicago, rendendo por sinal, uma série de vídeos comparativos, de diversos lances que mostram os mesmos trejeitos de M.J. reproduzidos por Kobe Bryant, com direito a língua para fora da boca, marca registrada de Jordan. E ele nunca escondeu a admiração por Michael, aproveitava inclusive, entre uma pausa e outra, para pegar dicas com ele durantes as vezes em que se enfrentaram, o que deu muito certo, diga-se de passagem.

Com o passar dos anos, e uma evolução sem igual, Kobe Bryant se tornou um dos maiores jogadores de todos os tempos. Cravando seu lugar na história com sua mentalidade única de um vencedor insaciável. Com atuações tão épicas quanto seu nome hoje o é.  Seus feitos estarão para sempre na memória dos fãs da NBA e do basquete em geral, com seus dois números eternizados no alto da arena mais emblemática do esporte americano e futuramente no Hall da Fama, com toda certeza. Mas contra fatos, não existem argumentos. E existem inúmeros deles, que perderíamos horas para listá-los por completo.

A discussão sobre a coroa de "G.O.A.T." continuará por muitos e muitos anos, nunca haverá uma conclusão, um ponto final. Se não for LeBron James será alguém em um futuro distante, na minha opinião. Acredito que jogadores tão a frente de seu tempo não sejam assim tão fáceis de existir, principalmente coexistir em uma mesma era. Jordan teve a sua vez, LeBron está chegando perto do fim da sua. Mas ainda que nessa realidade paralela, a matemática não seja exata, e 24 não seja maior do que 23 - como deveria -, entre estas duas eras tivemos o privilégio de assistir ao surgimento, a acensão e a consagração de uma lenda.


Um comentário:

  1. É um privilégio indescritível assistir tantas feras jogando. Porque a vida é assim, uns chegam, e outros dizem tchau. É o relógio da vida que não para. Belíssimo texto Arthur Silveira!

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