Entrevista exclusiva com Oscar Schimidt, o "Mão Santa"
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Imagem: Folha de São Paulo |
Alguns nomes se destacam no esporte por sua qualidade técnica, outros, apenas por sua maneira espalhafatosa de ser. Oscar Schimidt é a imagem do carisma e da simplicidade, ao mesmo tempo em que leva consigo a responsabilidade de ser o maior jogador da história do basquete brasileiro e um dos maiores do mundo.
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Imagem: SportTV |
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Imagem: Estadão |
O El Clásico Sports teve a honra e o prazer de entrevistar Oscar Schimidt, o "Mão Santa". A matéria foi idealizada por Borny Cristiano So, o cara que incumbiu à mim, o desafio de buscar uma entrevista que, até então, parecia impossível. Eu contei com a co-produção de Artur Silveira, um dos fundadores do blog e parceiro de todas as horas.
Confira agora a nossa entrevista com Oscar Schimidt, o maior pontuador da história do basquete mundial:
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Imagem: globoesporte.com |
1 – Já são quinze anos desde a sua última atuação como atleta, quais as principais atividades que o maior cestinha da história do basquete se dedica?
"Hoje eu sou palestrante, eu vivo de fazer palestras para empresas. E quando você vê que a mesma empresa te contrata de novo, é aí que você nota que o seu trabalho está sendo bom."
2 – Voltando um pouco no tempo. Você ficou conhecido no basquete como “mão santa”. Qual o seu sentimento em relação a esse apelido?
"De mão santa não tenho nada, né?! Eu sou um mão treinada, isso sim, treinada à exaustão. Eu não me pesava pra treinar o tempo todo, eu treinei mais do que qualquer pessoa nesse planeta, tenho certeza absoluta disso. E eu tenho um orgulho danado desse apelido. Pois eu acredito que você só vence quando você trabalha, não quando você fica sentado dentro de casa."
3 – Como você enxerga o atual momento do basquete brasileiro e quais as suas perspectivas para o futuro do esporte em nosso país?
"Eu enxergo com muito otimismo. Porque o presidente da federação (Guy Peixoto) hoje, é um cara que jogou muito basquete, que sabia jogar basquete. Foi campeão pelo Monte Líbano, campeão brasileiro, jogou pela seleção brasileira também... Por isso tenho muito otimismo."
4 - Mesmo sabendo que não foi necessária para o seu legado no Basquete Mundial, existe algum ressentimento por não ter atuado na NBA?
"Claro que não! Quando eu fui draftado e fui lá fazer o campos deles, era proibido jogar na seleção brasileira e na NBA. Então foi uma coisa muito simples: eu recusei porque eu teria que deixar de jogar pela seleção brasileira. Isso era vida, hein?! Era um pecado naquela época, era algo muito grave. Coincidentemente, três anos depois daquele draft, nós vencemos aquele pan americano, que acabou com toda essa besteira e em 92 estavam jogando com o Dream Team."
5 – Se você pudesse escolher entre tantos jogos importantes na sua carreira, qual você recordaria como o mais importante de todos? E qual o melhor jogador que você enfrentou na carreira?
"Lógico que aquela final dos jogos pan americanos (1987) eu escolho como o primeiro, né?! Na verdade, eu escolho ele até o vigésimo (risos). Foi demais! E o melhor jogador que eu já enfrentei... é difícil, pois eu joguei contra o Dream Team, e ali estavam todos eles, pô (risos)! Mas pra escolher um; Larry Bird.
6 - Sabemos que recentemente você enfrentou um problema sério de saúde, do qual se recuperou muito bem. E hoje, qual a situação da saúde do Oscar?
"Um dia, o meu médico me chamou, eu pensei: "Puts, lá vem outro tumor." Aí ele falou: "Oscar, eu queria te dar os parabéns, a tua ressonância nunca esteve tão boa."
Eu acredito que isso já passou. Claro que não é porque eu tenho um tumor que eu vou ficar chorando dentro de casa, minha vida continua a mesma. Só que esse tumor me ensinou a viver melhor. Hoje eu viajo mais, por exemplo, essa semana nós vamos pros Estados Unidos e vamos ficar lá quinze dias, final do ano vamos de novo. Então, eu dou presentes melhores, compro os carros que eu quero... eu to vivendo o que eu vivi menos no passado."
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Imagem: Portal R7 |
"Um dia, o meu médico me chamou, eu pensei: "Puts, lá vem outro tumor." Aí ele falou: "Oscar, eu queria te dar os parabéns, a tua ressonância nunca esteve tão boa."
Eu acredito que isso já passou. Claro que não é porque eu tenho um tumor que eu vou ficar chorando dentro de casa, minha vida continua a mesma. Só que esse tumor me ensinou a viver melhor. Hoje eu viajo mais, por exemplo, essa semana nós vamos pros Estados Unidos e vamos ficar lá quinze dias, final do ano vamos de novo. Então, eu dou presentes melhores, compro os carros que eu quero... eu to vivendo o que eu vivi menos no passado."
7 - Como você enxerga a sua carreira de um modo geral? E sobre as eventuais criticas, algo a dizer?
"Na minha carreira eu posso dizer que eu não deixei nada por fazer, eu tentei fazer tudo o que era possível. Mas a gente, infelizmente, lembra das coisas ruins. A minha geração, aquela geração que teve o Marcel, que teve o Cadu, esses jogadores fenomenais, merecia uma medalha olímpica, merecia um campeonato mundial. E na Olimpíada de 88 eu tive a bola para ganhar da União Soviética, errei o arremesso e nós não tivemos mais chance de disputar uma medalha olímpica. Tivemos em 80, mas aí já era outra geração. Então, eu acredito que a minha geração colocou uma impronta no esporte. Hoje o Golden State Warriors joga exatamente como a gente jogava. E quem diz isso é o Steve Kerr. Ele pergunta para os jornalistas: "Lembra do Oscar jogando? A gente joga igualzinho a ele." O cara que fica livre hoje e não arremessa, ele vai para o banco, é diferente o negócio. Esse negócio de "vamos segurar a bola" não existe. Meu amigo, você tem bola de 3, e na NBA o jogo é muito mais espaçado, porque a linha de três é maior. Isso não significa que você não vai meter a bola, um bom arremessador enfia a bola de qualquer lugar. Então, a minha geração fez tudo o que era possível fazer. Para depois ficar ouvindo crítica de um cara que nunca viu um arremesso de 3 pontos, dói muito, então é melhor a gente nem pensar nisso."
"Na minha carreira eu posso dizer que eu não deixei nada por fazer, eu tentei fazer tudo o que era possível. Mas a gente, infelizmente, lembra das coisas ruins. A minha geração, aquela geração que teve o Marcel, que teve o Cadu, esses jogadores fenomenais, merecia uma medalha olímpica, merecia um campeonato mundial. E na Olimpíada de 88 eu tive a bola para ganhar da União Soviética, errei o arremesso e nós não tivemos mais chance de disputar uma medalha olímpica. Tivemos em 80, mas aí já era outra geração. Então, eu acredito que a minha geração colocou uma impronta no esporte. Hoje o Golden State Warriors joga exatamente como a gente jogava. E quem diz isso é o Steve Kerr. Ele pergunta para os jornalistas: "Lembra do Oscar jogando? A gente joga igualzinho a ele." O cara que fica livre hoje e não arremessa, ele vai para o banco, é diferente o negócio. Esse negócio de "vamos segurar a bola" não existe. Meu amigo, você tem bola de 3, e na NBA o jogo é muito mais espaçado, porque a linha de três é maior. Isso não significa que você não vai meter a bola, um bom arremessador enfia a bola de qualquer lugar. Então, a minha geração fez tudo o que era possível fazer. Para depois ficar ouvindo crítica de um cara que nunca viu um arremesso de 3 pontos, dói muito, então é melhor a gente nem pensar nisso."
8 – Para finalizar, se pudesse deixar uma mensagem para aqueles que ainda não se renderam à bola laranja, o que o "mão santa" aconselharia?
"Para aqueles atletas que estão começando a treinar basquete... primeiro eu quero dizer que escolheram bem o esporte. Depois eu quero dizer que treinem muito, mas muito! E quando você estiver bem cansado, treine mais um pouquinho, porque esse pouquinho vai fazer a diferença na sua vida. Porque o cara que treina mais ou menos, ele vai jogar mais ou menos. Mas se você treinar forte, você vai jogar forte."
Nota final: por Artur Silveira
Quando recebi a notícia com a confirmação desta entrevista, reagi da mesma forma que uma criança reage ao receber aquele tão sonhado presente de aniversário: como fã de basquete que sou, amante de verdade deste esporte - e quem me conhece sabe disso -, corri com a mensagem em mãos, e lagrimas de emoção nos olhos para compartilhar a notícia com a minha esposa. Incrédulo. Era algo, como o próprio Lui Chaves mencionou em sua introdução: "impossível" aos nossos olhos.
O início da minha paixão pela bola laranja, infelizmente, se deu muito perto do final da grande carreira de Oscar. Ainda assim, tive o privilégio de vê-lo atuando pelo Flamengo, contra o Bandeirante/Irmãos Zen de Brusque, time pelo qual meu irmão e eu treinávamos nas categorias de base. Tive o prazer de presenciar in locu, com os olhos atentos da primeira fileira das arquibancadas, os seus arremessos precisos e o desespero da defesa da nossa equipe em deixá-lo livre, mesmo estando ele longe do seu auge. E o respeito que tinham, não só os adversários, mas também que os seus próprios companheiros demonstravam por tudo o que ele representou para aquela geração e as que viriam depois.
Foi sem dúvida alguma um dos momentos memoráveis que este esporte já me proporcionou, junto claro, da oportunidade de assinar em parceria com meu primo Lui Chaves essa entrevista tão especial.
Então eu gostaria de agradecer, e muito. Pela atenção para com a nossa equipe. Pelo exemplo de determinação e dedicação que devemos ter por nossos ideais e pelos nossos sonhos, sejam eles no mundo do esporte ou mesmo fora dele. Obrigado por ter elevado o nome do nosso país ao ponto mais alto da história desse esporte que tanto amo. Pois sempre foi com muito entusiasmo e orgulho que, por exemplo, ao auxiliar um sobrinho em um trabalho de escola certa vez, respondi a seguinte pergunta:
- Artur, quem é o maior pontuador da história do basquete mundial? É o Michael Jordan né?
- Não senhor! Ele é brasileiro. Se chama Oscar Schimidt , o "Mão Santa"!
"Para aqueles atletas que estão começando a treinar basquete... primeiro eu quero dizer que escolheram bem o esporte. Depois eu quero dizer que treinem muito, mas muito! E quando você estiver bem cansado, treine mais um pouquinho, porque esse pouquinho vai fazer a diferença na sua vida. Porque o cara que treina mais ou menos, ele vai jogar mais ou menos. Mas se você treinar forte, você vai jogar forte."
Nota final: por Artur Silveira
Quando recebi a notícia com a confirmação desta entrevista, reagi da mesma forma que uma criança reage ao receber aquele tão sonhado presente de aniversário: como fã de basquete que sou, amante de verdade deste esporte - e quem me conhece sabe disso -, corri com a mensagem em mãos, e lagrimas de emoção nos olhos para compartilhar a notícia com a minha esposa. Incrédulo. Era algo, como o próprio Lui Chaves mencionou em sua introdução: "impossível" aos nossos olhos.
O início da minha paixão pela bola laranja, infelizmente, se deu muito perto do final da grande carreira de Oscar. Ainda assim, tive o privilégio de vê-lo atuando pelo Flamengo, contra o Bandeirante/Irmãos Zen de Brusque, time pelo qual meu irmão e eu treinávamos nas categorias de base. Tive o prazer de presenciar in locu, com os olhos atentos da primeira fileira das arquibancadas, os seus arremessos precisos e o desespero da defesa da nossa equipe em deixá-lo livre, mesmo estando ele longe do seu auge. E o respeito que tinham, não só os adversários, mas também que os seus próprios companheiros demonstravam por tudo o que ele representou para aquela geração e as que viriam depois.
Foi sem dúvida alguma um dos momentos memoráveis que este esporte já me proporcionou, junto claro, da oportunidade de assinar em parceria com meu primo Lui Chaves essa entrevista tão especial.
Então eu gostaria de agradecer, e muito. Pela atenção para com a nossa equipe. Pelo exemplo de determinação e dedicação que devemos ter por nossos ideais e pelos nossos sonhos, sejam eles no mundo do esporte ou mesmo fora dele. Obrigado por ter elevado o nome do nosso país ao ponto mais alto da história desse esporte que tanto amo. Pois sempre foi com muito entusiasmo e orgulho que, por exemplo, ao auxiliar um sobrinho em um trabalho de escola certa vez, respondi a seguinte pergunta:
- Artur, quem é o maior pontuador da história do basquete mundial? É o Michael Jordan né?
- Não senhor! Ele é brasileiro. Se chama Oscar Schimidt , o "Mão Santa"!
Grande entrevista com o Oscar Schimidt, um verdadeiro exemplo de dedicação! Sempre que vejo entrevistas dele, percebo que foi um cara muito dedicado ao longo da carreira. Ouso dizer que, talvez, nenhum atleta tenha treinado tanto, como o "mão santa" treinou.
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