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Vinicius Júnior é o exemplo do respeito que perdemos





Vinicius Júnior foi vendido ao Real em meados de 2017 por um valor muito elevado para os padrões nacionais; 45 milhões de euros (178 milhões de reais). No entanto, permaneceu no Flamengo até junho de 2018, se apresentando ao clube merengue há poucos meses. A verdade é que todos sabiam que o menino não seria muito aproveitado no elenco principal do atual tricampeão europeu, e sua ida para Espanha nesse momento sempre pareceu algo muito precoce. E sim, está confirmado, era cedo demais. Não por falta de talento, em absoluto, mas porque é necessário que haja um amadurecimento que ainda não se fez. 

Na primeira rodada do campeonato espanhol, Vinicius Junior foi relacionado para a partida contra o Leganés no Santiago Bernabéu, porém, acabou não entrando em campo. Depois disso, muitas eram as especulações em torno de um possível empréstimo do atacante. Vários clubes se posicionaram na esperança de contar com o jovem, como Real Betis, Valência, e o próprio Flamengo. Mas, em uma atitude na qual eu encaro como um desperdício, o Real resolveu "larga-lo" no Real Madrid Castilla. Resumindo: a maior promessa do futebol brasileiro na atualidade, jogará a terceira divisão espanhola pelo time B do Real Madrid. Pouco, muito pouco em se tratando do nosso futebol. 

Mais uma vez a imagem do futebol brasileiro foi manchada. Todas as investidas do Flamengo em tentar manter Vinicius Junior no Brasil por pelo menos mais um ano, foram em vão. E mesmo que estejamos falando do clube que hoje é o mais organizado do país em termos de administração, não podemos esquecer que o nosso maior calo está dentro das quatro linhas: o estilo de jogo atrasado. 

Não somos mais respeitados como praticantes do futebol, somos arcaicos sob o olhar europeu. Claramente o Real Madrid entendeu que o menino tem muito mais chances de evoluir atuando na Série C da Espanha, do que na sofrível Série A do país pentacampeão mundial. Um pentacampeonato que serve apenas para os saudosistas, mas que de nada adianta em campo, quando assistimos aos nossos campeonatos. 

Entendo, mas não aceito. O Flamengo tem a maior torcida do país. É o clube mais midiático. Quem mais arrecada. No entanto, sofre com a baixa qualidade técnica - assim como os demais. Eu entendo o Real Madrid, de verdade, mas não podemos aceitar essa realidade. O Madrid fez uma opção técnica, apenas isso, não há como julgar clube e comissão. A questão é que, essa é mais uma prova do que nos tornamos; um país onde o futebol já não atrai o suficiente, ao ponto de sermos mais fortes do que as divisões inferiores de países europeus.

Assistindo ao jogo entre Corinthians e Sport ontem (17), pelo campeonato nacional, é difícil acreditar que o timão é o atual campeão da competição. Uma equipe sem criatividade, um futebol pobre, onde a pressão é baseada nos balões para dentro da área. Passes laterais, nenhuma infiltração, pouca aproximação ofensiva e muralhas defensivas. Jogo feio, sem brilho. Não consegui assistir os 90 minutos, devido ao imenso vazio técnico. Esse é o momento onde eu entendo a intenção madridista. É preciso evoluir para se tornar um grande jogador na Europa, e assistindo ao atual campeão brasileiro em campo, claramente não podemos oferecer no Brasil, o que um jovem em pleno amadurecimento necessita. É triste, mas é fato.

Precisamos de algo novo. Os clubes mais fortes - administrativamente falando - precisam se impor, montar times competitivos a nivel sul-americano,  inovar o jogo. Ou não. Pra ser sincero, não precisamos inovar nada, temos apenas que copiar o que é feito no velho continente. Quem nunca assistiu a um jogo da segunda divisão inglesa e se espantou com a qualidade técnica e tática apresentadas? Se não se espantou, ainda não assistiu. É a SEGUNDA DIVISÃO do futebol inglês, e está muito mais agradável do que a Série A do Brasil. Isso está certo? Óbvio que não!

Quando escrevo algo nesse sentido, sempre recebo as seguintes críticas: "Mas os times europeus tem elencos que são verdadeiras seleções, assim fica fácil. Os melhores do Brasil, da Argentina, Chile e etc... estão todos lá, assim até eu." Pobre pensamento, que explica muito da nossa situação. Um pensamento conformado, que se encontra dentro de uma desculpa vazia, para justificar o nosso atraso. Isso é conversa pra boi pra dormir. Sim, em peças individuais dificilmente teremos condições de competir com a Europa, mesmo porquê, o centro do futebol mundial está lá, e qualquer jogador de qualquer nacionalidade irá optar pelas velhas terras. Mas ninguém aqui está falando do individual, o assunto é coletivo, é sobre o ultrapassado estilo de jogo.

Temos um bom exemplo de como é possível fazer algo melhor, bem diante dos nossos olhos. O Grêmio, campeão da Libertadores e da copa do Brasil, conquistou esses títulos jogando um futebol bonito. Um jogo apoiado, um time que gosta da bola, valoriza a posse. O poderoso Flamengo se apequenou em pleno maracanã diante do tricolor pela copa do Brasil, dando mais uma demonstração da (débil) mentalidade dos nossos treinadores. Vencendo por  1 a 0, dentro de casa, com toda a torcida a favor, o time comandado por Mauricio Barbieri foi dominado pelos gaúchos, classificando-se no limite, por um fio bem estreito. Uma lástima. Mas claro, quando esse Grêmio de elenco mesclado entre bons nomes e jogadores recuperados por Renato Gaúcho enfrentou o Real Madrid na decisão do mundial, foi amplamente dominado - apesar da derrota magra por 1 a 0. Esse é o ponto onde podemos encaixar o fator individual. Mas sim, podemos ter um futebol mais atraente em sólo pátrio,  basta termos um pouquinho de vontade e  respeito pelo espetáculo.

Para encerrar, vale recordar de mais um exemplo do quão desinteressante soamos pra quem está lá fora. Paulo Henrique Ganso, deixado completamente de lado no Sevilla, optou em assinar com o modestíssimo Amiens da França, do que aceitar uma das ofertas de um dos diversos clubes brasileiros interessados em sua repatriação. Vale ressaltar que o Amiens é apenas o 18º colocado na Ligue 1, e terminou em 13° na última temporada. Sem contar que o pequeno clube tem apenas o 19° maior faturamento entre os clubes da primeira divisão francesa; 28 milhões de euros (117 milhões de reais). No Brasil, o Amiens seria 15° na lista dos que mais arrecadam, atrás de clubes como Vasco, Coritiba e Atlético-PR. Em tese, pelo menos 14 clubes brasileiros teriam condições de contratar o jogador.

Nota final:

Que os pensamento retrógados sejam obliterados, que tenhamos novos pensamentos, novos métodos. Pois de uma coisa estejamos certos: enquanto o 18º colocado do campeonato francês e a terceira divisão do campeonato espanhol tiverem mais valor do que os gigantes do nosso futebol, o destino será a aniquilação do respeito ao nosso esporte. Acorda, povo!

Créditos das imagens: globoesporte.com



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