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Baú do El Clásico: Bebeto e o chapéu no Fla



Após seis brilhantes anos no Flamengo, Bebeto trocou a gávea por São Januário em 28 dias de manobras espetaculares da diretoria vascaína. 



Bebeto é um dos grandes jogadores da história do futebol brasileiro, nascido em Salvador no dia 16 de fevereiro de 1964, começou a carreira no juvenil do Bahia e logo se transferiu para o Vitória, time pelo qual sempre torceu na infância. Mas essa história de trocar um rival pelo outro ainda causaria muita polêmica no futuro. 

Após um ano de muito destaque no rubro-negro baiano, Bebeto se transferiu para o Flamengo em 1983, um Flamengo que em pouco tempo perderia Zico e Junior para o futebol italiano e, via no jovem atacante de apenas 19 anos, a esperança de oferecer a órfã torcida flamenguista um novo ídolo. Isso se confirmou nos anos seguintes. Foram 114 gols em 285 jogos, isso tudo acompanhado de vários títulos; Bebeto se tornou o queridinho da torcida rubro-negra. 

O início da disputa

Bebeto e Romário - 1986
No entanto, no dia 30 de junho de 1989, o contrato do jogador se encerrou, e o mesmo esperava por uma renovação satisfatória e espontânea da diretoria do Flamengo. No outro lado da história estava a diretoria vascaína, atenta a situação do atacante do rival. No dia 01 de julho - um dia após o fim do contrato de Bebeto - o então presidente do Vasco, Antônio Soares Calçada, ligou para o representante do jogador, José Moraes. Na ligação Calçada pergunta ao agente: "Bebeto já renovou? Se não, quero conversar!". A princípio José achou que fosse um trote do mandatário cruz-maltino, e nem sequer levou a conversa até Bebeto. 

No dia seguinte, em 02 de julho, Calçada ligou mais uma vez para José Moraes e marcou um encontro, que aconteceu no Aeroporto do Galeão, onde o Vasco embarcava para uma excursão a Europa. Aquele foi um momento crucial para a negociação, pois José Moraes entendeu que o Vasco queria, de fato, contar com  Bebeto. O gigante da colina também conheceu as pretensões do atleta, que pedia um salário de 200 mil dólares por ano. Dessa forma, Calçada avisou Moraes antes do embarque: "Se não houver acordo com eles (Flamengo), faremos uma proposta oficial". No mesmo dia o então presidente do conselho deliberativo do Flamengo, Márcio Braga, avistou o empresário e o presidente do Vasco no aeroporto enquanto acompanhava alguns familiares. 

Em 04 de julho, a primeira reunião entre o Flamengo e o procurador de Bebeto. Na sala estavam presentes Gilberto Cardoso Filho (presidente do Flamengo), George Helal (vice de futebol) e Josef Berensztein (vice de finanças). José Moraes foi logo avisando: "Há um clube brasileiro interessado". O mesmo apresentou as exigências de Bebeto para a renovação, contrato de 3 anos com um salário anual de 200 mil dólares. O diretoria rubro-negra acreditava ser um mero blefe de Moraes, e rechaçou sem titubear. Nesse momento, George Helal tomou a palavra e deu o veredito: "Oferecemos 115 mil dólares ano, e não pagaremos nem um centavo a mais". A atitude dos dirigentes da Gávea foi recebida como um enorme desprezo por Bebeto e seus representantes. 

Em 1989 Eurico era um dos principais diretores
da Confederação brasileira de futebol
No dia 9 de julho, Moraes vai até a casa de Calçada para avisar pessoalmente que o jogador estava disposto a receber uma oferta oficial. O presidente do Vasco por sua vez, dá a seguinte resposta: "Então, ok! Mas agora você negociará com Eurico Miranda". O ponto é que Eurico não poderia participar da negociação, pois estava licenciado do cargo de vice-presidente do Vasco por ter sido nomeado diretor da CBF em 1988. Mas, quem disse que que ele respeitaria a lei? Não é, e nem nunca foi do feitio do cartola respeitar protocolos e regras federativas. Bizarro! 

No dia 12 de julho de 1989, o presidente do Vasco se encontrou em Lisboa com Gilberto Filho, presidente do Flamengo e, também, seu amigo pessoal. No almoço Gilberto perguntou a Calçada se era verdade que o Vasco estava interessado no menino de ouro da Gávea, Calçada negou, e falou que Gilberto "não deveria dar atenção para as especulações da imprensa". O inocente nem imaginava o tamanho da punhalada que levaria poucos dias depois. 

No mesmo dia do tal almoço, Eurico Miranda negociava dentro do hotel da seleção os termos do contrato com o próprio jogador - que estava integrado ao elenco canarinho. As manobras seguiram acontecendo. José Moraes passou a ajudar o cruz-maltino a facilitar a transição. Sendo assim, foi até a Gávea e se reuniu com Helal, informando que Bebeto teria a intenção de comprar o próprio passe com a ajuda de "alguns empresários", pelo valor estipulado pela federação - algo em torno de 3,4 milhões de dólares. Em Portugal Calçada tratou de convencer Gilberto que o Vasco não tinha interesse em Bebeto, fazendo com que o Flamengo mantivesse a oferta inicial (115 mil dólares). 

No dia 19 de julho, o 'caso Bebeto' fica um pouco de lado, graças ao anúncio da contratação de Renato Gaúcho e Júnior pelo Flamengo. Apenas no dia 24 do mesmo mês o rubro-negro se deu conta de que o Vasco realmente estava negociando com o atleta, o que causou um verdadeiro frenesi nos diretores do 'Fla' na Gávea. 

No dia 25 de julho, Marcio Braga e Josef Berensztein se reuniram, em uma atitude desesperada, com José Moraes e o próprio Bebeto. A reunião aconteceu em Teresópolis e, não foi nada boa para os cartolas. O Flamengo comunicou ao jogador que igualaria a oferta do Vasco e, inclusive, já estariam com o novo contrato em mãos para que o mesmo assinasse a renovação. Mas, para a surpresa dos dirigentes, Bebeto informou que não voltaria atrás, que manteria o acordo com o Vasco, até porque já havia comprado uma casa com o adiantamento pago pelo cruz-maltino. Portanto, era tarde demais para uma renegociação. 

No dia 27 de julho de 1989, o Flamengo entra com uma liminar na 27ª vara cível para tentar impedir o depósitos dos 7,5 milhões de cruzados novos (3,4 milhões de dólares) que deixariam Bebeto livre para assinar com o cruz-maltino. No mesmo dia, voltaram a concentração da seleção brasileira em Teresópolis para tentar convencer o atacante a não fazer aquilo. Nesse momento Bebeto disparou: "Eu não quero mais ficar no Flamengo! Vocês disseram que eu não estava com essa bola toda, então..." O jogador lembrou das palavras do presidente Gilberto Filho, que menosprezou Bebeto na primeira reunião no inicio do mês. 

Finalmente, no dia 28 de julho de 1989, o Vasco da Gama anuncia a contração do menino de ouro da Gávea, a partir dali, menino de ouro de São Januário. Bebeto permaneceu no gigante até 1992, quando se transferiu para o Deportivo LaCoruña da Espanha, em uma transferência que rendeu ao Vasco cerca de 4,5 milhões de dólares. Na colina, Bebeto disputou 115 jogos e marcou 59 gols, conquistando o campeonato brasileiro de 1989.  

Vários outros jogadores já trocaram o Flamengo pelo Vasco ou vice-versa, mas nenhuma transferência contou com tantas polêmicas quanto a do caso Bebeto. Desde o desprezo dos dirigentes rubro-negros, até as incríveis demonstrações de habilidade misturadas a uma boa pitada de má fé dos cartolas vascaínos, foi quase um roteiro de cinema. Uma história de amor, conspiração e traição. Assim foi a polêmica contratação realizada pelo Vasco em 1989; uma contratação com a assinatura de Eurico Miranda.  

Cheque de 6,52 milhões de cruzados novos pagos a federação em 1989. 





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