NFL: Marketing e Liberdade de Expressão
O futebol americano é o esporte mais inclusivo que eu conheço, pessoas de altura, peso e condicionamento físico diferentes jogam num mesmo time, e suas diferenças tornam a equipe mais forte. Nesse ponto, o esporte nos da uma bela lição de como nossas dissemelhanças podem se complementar e jogar a nosso favor.
O ponto negativo fica por conta da NFL, e não do esporte propriamente dito. A exigência em torno dos jogadores, tanto no rendimento, mas no comportamento é, no mínimo, questionável. Exigir que os atletas tenham um comportamento exemplar é compreensível visto que os mesmos estão constantemente sob os olhares atentos da mídia e suas decisões, e atitudes serão vistas por milhões de pessoas ao redor do mundo. A pressão é imensa e inegável.
A discussão se tornam mais delicadas quando as opiniões, e os princípios básicos que guiam a vida de um ser humano se tornam um problema de marketing que prejudica o atleta e o time para o qual joga. O caso mais recente foi protagonizado por Colin Keapernick, ex quarterback do San Francisco 49’s. As opiniões políticas e até mesmo a religião de um cidadão culminaram em um bom atleta, sem time.
A partir do momento em que há lucro econômico, o esporte deixa de ser apenas sobre ganhar ou perder, entram variáveis como venda de camisas oficiais, bonés, copos e outros produtos com a marca do time e com o nome dos jogadores, que geram ganhos inimagináveis aos clubes. Ter um jogador que se comporta da maneira esperada, ou seja, que faz bem o papel de bom moço, não se envolve em polêmicas, não causa encrencas e mantem reputação ilibada, além de um bom rendimento, torna o mesmo um herói dentro e fora dos campos, para os torcedores e para as marcas que estão por trás de sua carreira.
Quando ter um credo diferente, ou apoiar um viés político polêmico causa repulsa nos fãs, por melhor que seja o jogador, ele não será capaz de gerar renda para o time, e o ódio ao atleta pode virar protestos contra a instituição, ou seja, as discordâncias com as opiniões de Keapernick poderiam se tornar um enorme problema de marketing para os 49’s, ou qualquer outra franquia em que ele jogasse.
Na temporada passada as controvérsia giraram em torno dos protestos que ocorreram durante a execução do hino nacional dos Estados Unidos. A imensa audiência conservadora da NFL, ultrajada com o que considera em "ato desrespeitoso dos jogadores", protestou, e continua insatisfeita com os atletas que se ajoelham durante o hino, e os times que “permitem” esta atitude.
É um protesto pacífico que não desrespeita nenhuma lei pátria, são cidadãos exercendo seu direito de livre expressão e mostrando seu descontentamento com a forma que questões sérias, como a discriminação racial tem sido tratadas. Não deveria ser motivo de tanta revolta. Nesta temporada, assim que o primeiro joelho tocar o chão, a discussão recomeçará e eu me perguntarei uma vez mais: até onde o controle de uma organização na vida privada de um indivíduo pode ir? Até onde os times e a própria NLF podem intervir nesta situação, sem reprimir a liberdade de um cidadão de pensar como quer, de ter seu próprio ponto de vista?
Um jogador, cuja imagem é utilizada pelo time, não pode utilizar toda a publicidade em torno dele para levantar discussões necessárias na sociedade? Quero deixar claro que não estou nem concordando nem discordando da opinião de nenhum jogador, a discussão não é sobre suas ideologias, mas sobre seu direito de tê-las e de manifestar-se a respeito delas, Este direito transcende a discussão em si, pois trata-se do direito de discutir, o qual é apreciado por todas as ideologias e inerente à existência humana.
Nesta temporada, quero ver mais que excelentes jogos, placares favoráveis, vitórias memoráveis e surpresas. Quero ver atletas que se sentem à vontade, que não sejam atados em razão do marketing. Quando isso acontecer, teremos uma sociedade tão inclusiva quanto o futebol americano enquanto esporte, e que vê as diferenças com outros olhos. Afinal, não há evolução sem diversidade.
Imagem: elpaís.com
Parabéns! Excelente texto ! Eu particularmente, gosto que o esporte também atue em outras áreas da sociedade
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