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Len Bias: O cometa celta


O imaginário humano, complexo que é, na maioria das vezes se dedica mais aquilo que sequer aconteceu do que enfrenta a dura realidade do nosso mundo. É da nossa natureza passar horas refletindo e até mesmo fazer planos de algo que ficou apenas nos sonhos e desejos de cada um de nós. Talvez a maior pergunta que nos fazemos é : "e se ?".

"- E se eu tivesse largado aquele emprego chato que fiquei por tanto tempo?"
"- E se eu tivesse me dedicado mais aos estudos?"
"- E se eu tivesse chamado aquela garota pra sair?"

Na NBA, sobretudo em Boston, é normal se questionar o que seria da história dos Celtics se Len Bias não tivesse partido. Dono de um talento único e comparado à Michael Jordan, sua perda deixou um vazio que jamais foi superado.

Leonard Kevin Bias nasceu em Maryland no dia 18 de Novembro de 1963. Tido como grande promessa desde jovem, atraiu olhares de recrutadores da NCAA. Optou pelos Terrapins, de sua terra natal, subúrbio de Washington. Logo de cara, impactou a equipe e até hoje é considerado um dos maiores atletas universitários da historia. Eleito MVP e atleta do ano na conferência, com médias de 23 pontos, 7 rebotes e 54,4% dos arremessos por jogo. Mike Kryzewski, lendário técnico de Duke, disse ao Boston Globe em 2003:

"- Em toda a minha história em Duke, tiveram dois jogadores adversários que me chamaram a atenção: Michael Jordan e Len Bias."

Bias era inclusive considerado melhor que o rapaz de North Carolina à longo prazo por ser um playmaker nato, atlético ao extremo e, semelhante a Bernard King, com um domínio absurdo do marcador no poste baixo que era imparável.

Diante de toda a expectativa e prestígio, Len declarou- se ao Draft de 1986. Quis o destino que ele fosse escolhido por um dos melhores times da história, fato até curioso, já que os maiores talentos geralmente são reservados aos piores times da liga. Isso foi possível graças a uma tacada de mestre do novo GM dos Celtics, Jan Volk, dois anos antes. Substituindo o legendário Red Auerbach e querendo mostrar serviço, mesmo após o título de 84( 4x2 nos Lakers), Jan fez um movimento ousado e enviou Gerald Henderson para o Seattle Supersonics em troca da escolha de 1 round de dois anos depois. Com o desempenho ruim dos Sonics ao final da temporada, Boston ganhou de presente a segunda escolha geral. 

Len seria o encaixe perfeito em um time que já via o declínio físico de Larry Bird e manteria a franquia no topo pela próxima década. 

A noite do Draft talvez seja o maior momento de um jovem no basquete. Onde os sonhos se tornam realidade e as frustrações por ver o tempo passar e o comissário chamar outros nomes que não os seus. Para alguém com o talento do tamanho de Len Bias, foram menos de 10 minutos de espera. Depois de Brad Dougherty ser recrutado pelo Cleveland Cavaliers, o garoto estaria  ao lado de Bird, Dennis Johnson, Rober Parish e Kevin McHale. 

Com sua camisa 30 e a euforia proporcional à sua capacidade, voltou a Maryland celebrar com os amigos a glória alcançada. Como de costume em festas universitárias em geral, bebidas, mulheres e drogas. Bias sempre foi alertado em sua passagem na NCAA a respeito das más companhias. Tranquilo que era, costumava dizer que todos sabiam de sua conduta mesmo em meio ao comportamento inadequado no seu círculo de amizades. Jamais tinha experimentado substâncias ilícitas, dizia ele.  Naquela madrugada no dormitório, Len não resistiu ao prazer imediato que a cocaína pode trazer. Vieram as dificuldades respiratórias, as convulsões, e a ambulância que o levou ao hospital. Os supostos amigos dizem que viram seu olhar  se apagar e perder o brilho. 48 horas após a maior notícia de sua vida e mais de 3 horas de trabalho paramédico, a vida de Leonard Kevin Bias chegava ao fim, rápida como um cometa, aos 22 anos.

Diante do espanto e comoção nacional, os Celtics adiaram a aposentadoria de Bird até 1992, fato que foi agravado com a também terrível morte de Reggie Lewis. A equipe se tornou coadjuvante na década. Foram 21 longos anos até o troféu Larry O'Brien retornar ao seu lugar preferido. Seria sórdido dizer que a morte de Bias serviu para algo bom, mas se serve de alento, a política anti drogas a nível universitário e profissional passou por uma revolução. A Maryland University foi investigada por omissão de fatos e hoje o controle é muito mais rigoroso. Foram abertos os  olhos para um problema crônico nos EUA, e certamente muitos outros jovens tiveram uma oportunidade de um desfecho diferente. 

Ainda hoje, nos arredores de Massachusetts, é comum ouvir dos mais fanáticos celtas que possivelmente o maior jogador de sua história jamais pisou no Boston Garden. Len Bias está para sempre em seus corações, e assim como todos nós,  humanos de imaginação fértil, há 30 anos se perguntam o que seria do maior campeão da NBA se o jovem de Maryland  não tivesse morrido.

Créditos da imagem: Courtney Ingram 

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