Quando o sonho é ameaçado pelo acaso: Travis Frederick
A fisioterapeuta Tamires Chaves, que faz parte da equipe do El Clásico Sports, falou um pouco sobre a síndrome de Giullain-barré, doença autoimune pela qual o center Travis Frederick, de 27 anos, do Dallas Cowboys, foi diagnosticado. Infelizmente as palavras da fisioterapeuta passaram muito longe de serem otimistas.
No último dia 25/08, Travis anunciou seu afastamento dos gramados em decorrência da descoberta da doença. O jogador se sentiu indisposto, e resolveu procurar um médico especialista. Em entrevista ao The Guardiam, o center do Dallas afirmou que sentia dores como se fossem "ferroadas no pescoço e nos ombros". Esse é um dos sintomas da doença, assim como formigamentos nos pés e nas pernas, sensação de desmaio e, dependendo do estágio, dificuldade para engolir sólidos. Após bateria de exames, o resultado inesperado.
Para entendermos melhor a situação do atleta, eu perguntei a fisioterapeuta sobre a possibilidade de Travis retomar a sua carreira, mesmo sendo essa uma doença incurável. As repostas foram muito negativas (infelizmente), e uma carreira brilhante, pode ter encontrado o seu ponto final após cinco temporadas na maior liga de futebol americano do mundo.
Confira as dúvidas que tiramos com a especialista:
Um jogador de futebol americano, esporte que conta com uma exigência física surreal, tem a possibilidade de voltar a jogar?
"Partindo do ponto de vista que essa é uma doença autoimune, ou seja, o corpo cria anticorpos que irão destruir a bainha de melina. É difícil! O que é a bainha de melina? A bainha de melina é uma camada de proteção dos nervos periféricos, além de proteger, ela faz com que esse impulso elétrico não se dissipe no caminho, acelerando assim a velocidade de impulso, permitindo a realização dos movimentos corporais. Quando ocorre a destruição dessa bainha, o impulso elétrico ficará comprometido, chegando em menor velocidade, e muitas vezes não chegando, causando uma paralisia total. Com a destruição dessa proteção, os sintomas começam a aparecer, como fraqueza muscular, diminuição dos movimentos articulares e musculares, formigamento, dores e até paralisia. Portanto, como o futebol americano é um esporte de uma exigência física muito grande, é difícil acreditar no retorno do jogador aos campos".
Em um estágio mais avançado, existe um risco de que o portador da síndrome venha a falecer em decorrência da doença?
"Vai depender do estágio da doença quando se foi diagnosticado. Dependendo do estágio, o nervo pode estar mais, ou menos comprometido. Quando se trata de doença autoimune, quanto mais cedo se iniciar o tratamento, menor as complicações. No caso da SGB, a pior complicação da doença é quando afeta os nervos responsáveis pela contração dos músculos da respiração (diafragma) e o músculo cardíaco (miocárdio), levando a insuficiência respiratória ou cardíaca. Nesses casos sim, podemos dizer que há o risco de vida. Mas dependendo do estágio em que ele foi diagnosticado e iniciou o tratamento, é possível manter a capacidade funcional e qualidade de vida, por meio da reabilitação. Mas é difícil imaginar um indivíduo com esse diagnóstico conseguir voltar pra um esporte tão físico.
Existem fases variantes da doença. Por exemplo: tipo 1, 2, A, B ou C...?
"Sim, existem fases. Seria o tamanho do comprometimento dos nervos periféricos. Ou seja: em que momento da vida ele foi diagnosticado. Se está em uma fase mais aguda, se está em uma fase mais crônica, onde os nervos já estão mais comprometidos. Mas, existem variáveis da síndrome. Vai muito do local onde inicia essa doença. Nos Estados Unidos, por exemplo, são mais comuns os casos onde os pacientes começam com fraqueza nos membros inferiores, e depois vai se espalhando para as outras regiões do corpo. Outra variante é nos olhos, onde temos muitos músculos que permitem os movimentos oculares. Mas é bem raro. O mais comum é iniciar-se pelos membros inferiores. Mas a maior complicação da doença é quando afeta os músculos respiratórios e cardíacos, como falei anteriormente."
Apesar da possibilidade de Travis ter uma vida normal - na medida do possível -, o fato de alguém tão jovem ter um sonho interrompido por um fato assim, nos mostra o quanto somos frágeis.
Travis Frederick se destacou na NFL sendo escolhido para o Pro Bowl nas últimas quatro temporadas. E desde que chegou à franquia, jamais deixou de disputar sequer uma partida.
Mesmo com um panorama tão - aparentemente - desfavorável, o jogador está otimista, afirmando que "se sente muito bem", e que "pretende voltar a jogar em breve". Os médicos não deram nenhum prognóstico sobre um possível retorno, mas a torcida é para que Travis Frederick, acima de tudo, fique bem. Mental, e fisicamente.
O center do Dallas Cowboys, um dos bons nomes da liga que se inicia essa semana, passará algum tempo como espectador. No entanto, estará cuidando de algo bem mais importante: da saúde. Como os amantes da NFL costumam dizer, "setembro sempre chega", como quem anuncia a chegada de novos e melhores tempos. Sabemos e desejamos que, muito em breve, você Travis, proclamará palavras com o mesmo tom de alegria, para nos trazer notícias acalentadoras, para o seu bem, para o bem de todos os apaixonados pelos Cowboys, e pelo futebol americano como um todo.
Pra encerrar, uma breve explicação sobre a síndrome de Giullain-Barré.
Entenda mais sobre a síndrome de Guillain Barré (SBG)
Para entender sobre a síndrome de Guillain Barré (SGB), é
necessário compreender o que é uma doença autoimune.
Em uma condição normal, o sistema imunológico cria
anticorpos para combater antígenos (bactérias, fungos, vírus), mantendo o corpo
humano protegido das ações desses antígenos, destruindo-os.
No caso das doenças autoimunes, o sistema imunológico não
consegue distinguir os antígenos dos tecidos saudáveis do corpo, e acaba
atacando e destruindo células normais do organismo.
Na SGB, o sistema imunológico cria anticorpos contra as
células nervosas, atacando e destruindo a bainha de mielina, que reveste os
nervos periféricos (nervos da medula espinhal). Ao perder essa bainha, os nervos ficam inflamados e isto
impede que o impulso nervoso seja transmitido para os músculos, ocasionando
sintomas como fraqueza muscular, sensação de formigamento, perda da
sensibilidade e diminuição dos reflexos.
Na maioria dos casos os sintomas surgem nos pés e nas mãos,
podendo afetar todo membro inferior e superior ou até mesmo os músculos da
respiração, deglutição e o musculo do coração, levando a complicações de
maiores.
Por ser uma doença autoimune, não tem cura, e o tratamento
é basicamente diminuir os sintomas e evitar complicações.
É comum o uso de imunossupressores que deprimem o sistema
imunológico na tentativa de diminuir os anticorpos que estão atacando o sistema
nervoso. O grande problema da terapia imunossupressora é a diminuição da defesa
do corpo de forma global, aumentando o risco de infecções por corpos estranhos.
Os corticoides são utilizados para diminuir o processo
inflamatório e a degeneração dos nervos periféricos.
Por fim, é de suma importância o acompanhamento
fisioterapêutico com o objetivo de estimular a movimentação articular, melhorar
a força muscular, prevenir complicações respiratórias e cardiovasculares e
principalmente manter a capacidade funcional e a qualidade de vida desses
indivíduos.
Por Tamires Chaves - Especialista em Atenção Básica/Saúde da Família
Pós-graduanda em Ortopedia, Traumatologia e Desportiva
Professora na Escola Técnica Geração - Itajaí-SC
Fisioterapeuta na Equipe Lapidae Cirurgia Plástica.
(CREFITO: 233403-F)
Pós-graduanda em Ortopedia, Traumatologia e Desportiva
Professora na Escola Técnica Geração - Itajaí-SC
Fisioterapeuta na Equipe Lapidae Cirurgia Plástica.
(CREFITO: 233403-F)
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