Derrubando rivais, preconceitos e a pobreza: A Besta do Leste
Quais as chances de um garoto humilde nascido em um país de terceiro mundo se tornar um dos maiores jogadores de basquete da história?
Se você fizesse essa pergunta a um jamaicano na década de 60, a reação seria de total incredulidade. O sonho que persiste até hoje na vida de milhares de garotos em oferecer a família conforto e segurança e se tornar uma estrela mundial parecia impossível a quase 60 anos. O país da América Central não era exatamente uma potência esportiva e tampouco um lugar pacífico para seus habitantes. Em meio às limitações financeiras, surgiu no país caribenho um jovem destinando a uma grandeza tamanha que seria compatível apenas com a cidade mais famosa da Terra.
Nascido na capital Kingston, Patrick Aloysius Ewing mudou-se com a família para Cambridge, Massachusetts, que buscava o tão famoso Sonho Americano. Exímio no futebol americano e cricket, conheceu o basquete no ensino médio, e através do programa MIT- Wellesley Upward Bound, voltado a jovens de baixa renda, obteve bolsa esportiva para a Universidade de Georgetown, uma das mais famosas e melhores dos EUA.
Com sua altura e força física bizarras para a época, foi um dos primeiros atletas a chegar a final da NCAA e ser eleito melhor do torneio em ano de calouro. Além disso, lançou tendência que dura até os dias de hoje, ao usar uma camisa de manga curta por baixo do uniforme. O ano era 1982. Na decisao, os Hoyas encaravam o fortíssimo e e favorito time de North Carolina Tar Heels, de Sam Perkins, James Worthy e Michael Jordan. Apesar da atuação monstruosa de Ewing, com 23 pontos , 11 rebotes 3 roubos e 2 tocos, Jordan( sempre ele), matou a bola decisiva a 7 segundos do fim, dando aos Tar Heels a vitória por 63x62. A final de 82 e considerada até hoje como a melhor da historia.
No ano seguinte, Patrick novamente chegava a final, desta vez contra o time de Houston, de Hakeem Olajuwon, rival constante de anos depois. Com o time mais entrosado e errando menos, Ewing era campeão universitario. Incrivelmente pelo terceiro ano seguido , os Hoyas estava na decisão de 1985. Contudo , Villanova , num recorde que perdura até hoje , acertou assombrosos 78,6% dos arremessos e decretou o fim da trajetória de Ewing no esporte universitario. Em meio a tudo isso, Patrick superou também inúmeros ataques racistas em diversos jogos de território hostil. Era hora de elevar sua grandeza a outro patamar.
A NBA teria pela primeira vez um sistema semelhante ao atual, onde haveria uma loteria para as franquias com piores campanhas serem sorteadas no Draft. Com isso, a possibilidade de qualquer equipe ter a primeira escolha estava extinta.
Até hoje existem boatos e teorias de que o sorteio foi direcionado para que Ewing fosse para New York. A liga era a quarta em audiência e o público nos ginásios sofria queda. David Stern havia assumido a função de comissário no ano anterior e tinha a missão de alavancar a receita e o interesse do público. A ida de jovens estrelas para grandes mercados era interessante para o campeonato , assim como havia acontecido no ano anterior con Michael Jordan indo para Chicago.Supostos aquecimentos e dobras no envelope dos Knicks não foram confirmados.Ewing, carta marcada na primeira escolha geral, desembarcava na Big Apple.
Após algumas temporadas sem um elenco de qualidade , os Knicks voltaram aos playoffs em 1987. Uma troca de Bill Cartwright por Charles Oakley deixou o garrafão imparávelz mas era pouco. Após 3 anos de insucesso, o lendário Pat Riley seria o novo técnico e implantaria uma forte marcação e padrão de jogo. Com as chegadas de John Starks via Draft, Doc Rivers, Bo Kimble e Rolando Blackman, o time parecia ter cacife para bater os Bulls. Ewing se consolidava como pivo dominante e explosivo, mas numa conferência Leste muito competitiva, parecia impossível levar os Knicks novamente ao topo. A notícia da primeira aposentadoria de Jordan os alçou a condição de novos favoritos . Com Ewing como grande estrela consolidada e integrante do Dream Team de 92 , e a chegada de Derek Harper, campanha imponente de 57 vitórias e 25 derrotas. Após eliminarem os vizinhos New Jersey Nets, finalmente o fantasma seria exorcizado: 4x3 nos Bulls. A final do Leste reservada os Pacers de Reggie Miller como adversários. Com provocações de ambos os lados, e jogadas maldosas de parte a parte, após memoráveis sete jogos, Patrick Ewing estava nas finais. O adversario? Os Rockets, do velho conhecido Hakeem "The Dream" Olajuwon. Num duelo épico de garrafão, os Knicks estiveram a um arremesso do título no jogo 6. John Starks, sozinho, foi bloqueado por Hakeem. Sem dúvidas , o maior responsável pela derrota no jogo sete foi Pat Riley. Relutante em tirar Starks mesmo com pífio desempenho de 2/18 nos arremessos, Ewing via o título escorrer pelas mãos .
No ano seguinte, a rivalidade acirrada com os Pacers seria a final do Leste. Após um jogo um onde Reggie Miller parecia possuído por demonios, marcando 8 pontos nos 8 segundos finais de jogo, Patrick se impôs e levou a série ao jogo sete. Em uma partida durissima, violenta e cheia de trabalho talking, uma bandeja fácil e e inacreditavelmente perdida por Ewing deixou os Knicks pelo caminho novamente.
Mesmo apos uma lesão gravíssima na mão direita, Pat ainda conseguiu levar seu time as finais de 98/99, mas já em declínio fisico, não foi pareo para os Spurs de David Robinson. Trocado para os Supersonics, encerrou a carreira em 2002 no Orlando Magic.
Na era atual dos supertimes e supercontratos, Patrick Ewing foi sem dúvidas o oposto da NBA atual. Sua lealdade e comprometimento trouxeram respeito da exigente mídia nova iorquina e conquistou os corações dos moradores da cidade que nunca dorme. Foram 16 anos na liga, 11 ALL Stars, 2 ouros Olímpicos , mais de 20 mil pontos e o eterno número 33 no teto da Meca do Basquete.
Hoje, o homem de 2,16 metros, de sorriso fácil e 56 anos recém completos, voltou para casa como técnico dos Hoyas. Infelizmente(ou felizmente), foi contemporâneo da maior geração de pivôs da história. Não conquistou títulos, mas seu nome está eternizado nas memórias de um tempo que não voltam mais. Um capítulo feliz de um gênio que saiu da pobreza, venceu o preconceito racial e pôs seu nome no Hall da Fama do esporte mais apaixonante do planeta.
Créditos da imagem: John White (This Day in Sports)
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