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Visão pessoal: vinte anos depois, entendo o que o meu pai queria dizer




"Temos que torcer pra Croácia vencer, isso seria histórico!" Eu tinha apenas 8 anos de idade, e não entendia o motivo pelo qual meu pai havia optado torcer por uma seleção com o uniforme tão feio. O meu encantamento estava no design dos uniformes, e o da França era apaixonante ao extremo para o meu olhar infantil. Lembro que foi nesse jogo que o meu irmão, quase 3 anos mais novo, me ensinou o que queria dizer a expressão 'jogar em casa'.  

Apenas anos mais tarde eu entendi o quão histórica era aquela semifinal disputada em Paris, no dia 07 de julho de 1998. A Croácia disputava a sua primeira Copa do Mundo como país independente, e fazia um mundial de encher os olhos. A França era a dona da casa, e buscava com toda a sua tradição, a primeira conquista de sua bela história. O título chegaria alguns dias depois, ali, naquele mesmo 'Stade de France', no primeiro domingo da minha vida em que chorei por culpa do futebol.  

Mas, voltaremos a semifinal. Os croatas saíram na frente com um gol de Davor Suker, com um minuto de jogo na segunda etapa. Os franceses virariam o jogo com dois gols Thuram, alías, os únicos gols desse jogador com a camisa de sua seleção. Lembro que meu pai também dizia que "enfrentar a Croácia seria melhor do que enfrentar a França", enquanto eu só pensava na combinação dos uniformes, estava contente pois veria no mesmo jogo as duas camisas mais bonitas daquela copa. Todos sabem como aquele mundial terminou e, a partir dali, comecei a entender o que é torcer de verdade. 

Vinte anos depois, agora com 28 de idade, pude compreender as palavras de meu pai. Quem é apaixonado por futebol quer ver a história sendo escrita, quer ver a 'mesmice'' ficando pra trás e aqueles considerados mais fracos, triunfando. Ontem, quando começou a partida entre Inglaterra e Croácia, tive a sensação de ter voltado no tempo, e parecia ouvir o que o meu velho falava lá atrás, na primeira copa em que me lembro de tudo. Queria ter o prazer de ver uma seleção que representa uma pequena nação de apenas 4,6 milhões de habitantes, jogando uma final de Copa do Mundo. Quando Trippier abriu o placar para os ingleses com um lindo gol de falta, eu só pensava que aquilo "bem que poderia mudar". Mas vendo o primeiro tempo extremamente consistente da Inglaterra, imaginei que também seria legal ver os inventores do futebol voltando a uma final de mundial - algo que não acontece desde 1966. 

No entanto, a segunda etapa chegou, e com ela a certeza de que apenas um dos times merecia chegar nessa decisão, e a Croácia conquistou esse merecimento. Um time valente, que nem por um segundo entregou os pontos. Os homens que igualaram o histórico resultado daquele time comando por Davor Suker, buscavam quebrar aquele recorde, dessa vez, para a alegria do presidente da federação croata; Davor Suker. 

E isso aconteceu,  e de maneira mais do que fantástica. Aos 23' minutos do segundo tempo Ivan Perisic empatou o jogo, após lindo cruzamento de Vrsalijko. Depois do empate a Croácia continuou pressionando, não estava satisfeita com aquele 1 a 1, pois já havia passado por duas prorrogações e claramente queria evitar aquele desgaste. Não foi possível, os ingleses amparados por aquilo que tanto "repudiam", amarraram o jogo na base da 'cera', condenando a semifinal a mais 30 minutos de sofrimento. Pra se ter uma ideia da superioridade do time comandado por Zlatko Dalic, a Croácia terminou o tempo normal com 15 finalizações, contra apenas 7 da Inglaterra, tendo um chute na trave de Perisic logo após ter empatado o jogo. 

Na prorrogação a Croácia - mesmo exausta - comandou as ações. Coragem, determinação, foco, força e todas aquelas coisas que todos dizem que não pode faltar em um esporte de alto rendimento, sobrou no lado croata. E o prêmio chegou aos 4' minutos do segundo tempo da prorrogação, quando Mandzukic escreveu um capítulo que entrará pra história do futebol. A pequena Croácia, um país muito menor que a cidade de São Paulo, está na final da Copa do Mundo da Rússia. E pra ficar ainda mais legal; vai enfrentar a França, algoz da seleção de 98. Aquilo que não conseguiu fazer a Croácia se Suker, foi redimido pelo time de Luka Modric, Ivan Rakitic e outros grandes nomes do futebol atual. A melhor geração da história da Croácia, só poderia ter conquistado o melhor resultado da história do país em copas. 

Ontem me senti de novo com 8 anos, porém, com uma magia diferente. Em 1998 essa magia estava nas camisas das seleções, eu amava aquilo, ficar analisando e namorando as cores e desenhos daqueles uniformes. Dessa vez, eu queria aquilo que meu pai queria - e com certeza continua querendo: ver esses momentos no futebol, ver os personagens mudando, as forças se alternando e, dessa forma, deixando esse esporte cada vez mais apaixonante. Já imaginou a Croácia campeã do mundo no domingo? E é por isso que eu vou torcer, pelo menos até o apito inicial. 

Créditos da imagem: Alexander Hassenstein (Diário As)

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